O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, afirmou na terça-feira, perante os deputados da Assembleia Municipal, que a rodoviária Carris “não irá acumular dívida” enquanto estiver sob a gestão do município.

“O modelo que nós propomos para o futuro da cidade não é de uma empresa que acumule dívida como no passado, não, a Carris não irá acumular dívida nas mãos da Câmara de Lisboa, mas também não é o modelo do passado recente, em que se cortou o serviço público”, disse Medina durante a apresentação da informação escrita do presidente à Assembleia Municipal de Lisboa (AML), que ocorre trimestralmente.

No final de Novembro, o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) assinaram um memorando da passagem de gestão da rodoviária Carris para a autarquia de maioria socialista, a partir de 1 de Janeiro de 2017.

Numa intervenção dedicada a este tema, Medina aproveitou para responder a algumas críticas. “A dívida que hoje está acumulada na Carris, como está acumulada no metro, resulta em grande medida de o Estado não ter pago as obrigações de serviço público que ele próprio exigiu e que ele próprio contratou”, considerou o autarca.

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Para Medina, este “não é um modelo de solução para o futuro da Carris”, mas também não o é aquele posto em vigor na última legislatura, “de cortar em 30% a oferta” nas áreas de “verdadeiro serviço público, concentrando-se exclusivamente nas áreas rentáveis”.

Intervindo durante o debate, a deputada Ana Gaspar, dos Cidadãos por Lisboa (eleitos nas listas socialistas), observou que a municipalização da empresa representa “um importante corte com uma opção política recente e algo obsessiva de privatização” dos serviços, levada a cabo pelo anterior Governo PSD/CDS-PP.

“Primeiro vai-se deitar dinheiro para cima da Carris e depois esperamos que as pessoas apareçam em massa” para usar os transportes públicos, disse a deputada social-democrata Luísa Vala Rocha, uma das vozes mais críticas.

Para a eleita pelo PSD, a transferência do Metropolitano “não morreu aqui na Assembleia Municipal, mas sim num estúdio de televisão”, quando em Setembro, no seu espaço de comentário semanal na TVI24, Medina afirmou que o metro permaneceria responsabilidade do Estado.

Em resposta, o presidente da CML advogou que é preciso “ir buscar uma pequenina parte da procura” que existia há quatro anos. “O que aconteceu em Lisboa nos últimos quatro anos [com a perda de passageiros] é trágico e não tem paralelo em nenhuma cidade civilizada”, acrescentou.

Em contrapartida, o PAN assinalou que a “Câmara esteve bem”, e deve ser congratulada. O deputado Miguel Santos apontou que “quando a Carris for transformada num serviço público de qualidade, juntando-se aos outros modos de mobilidade suave que estão a ser implementados”, será “um bom tempo para a mobilidade na cidade”.

Já o PCP apontou que “a Carris degradou-se e deixou de ser serviço público com o último Governo”, mas “foi vítima dos governos PS, PSD e CDS”.

Intervindo na discussão, o PEV assinalou a falta de conhecimento sobre as medidas que foram anunciadas e noticiadas pela comunicação social.

A deputada Cláudia Madeira questionou também o executivo se “na altura da assinatura do protocolo já tinha reunido com toda as Juntas de Freguesia, concelhos limítrofes e comissões de utentes”.

Durante a sessão de hoje, os deputados apreciaram um voto de saudação por um novo modelo de gestão da Carris, apresentado pelo PS, e que foi aprovado com os votos contra do CDS-PP, MPT, PCP, PEV e PSD, e votos favoráveis do BE, Parques das Nações por Nós, Cidadãos por Lisboa, PS e PAN.

Na quarta-feira, o executivo municipal irá debater o acordo de princípio para prosseguir a negociação com o Estado para o novo modelo de gestão da Carris.