O Banco Central Europeu (BCE) deverá anunciar esta quinta-feira um alargamento temporal do programa de compra de ativos até setembro de 2017 — sem mexer nas taxas de juro de referência –, segundo alguns analistas consultados pela agência Lusa.

A reunião de política monetária do BCE realiza-se na manhã desta quinta-feira na sede da instituição, em Frankfurt, seguida pela habitual conferência de imprensa.

O fator de maior incerteza, na nossa opinião, reside, no montante das compras que será anunciado para os seis meses de prolongamento do mercado. Irá o BCE manter as compras atuais nos 80 mil milhões de euros mensais depois de março, ou irá anunciar que o montante será mais baixo, voltando talvez aos 60 mil milhões de euros/mensais?”, questionou a analista financeira do Banco BPI Teresa Gil Pinheiro.

Também para o economista do Banco Carregosa Rui Bárbara a grande curiosidade neste momento no mercado é saber o que vai o BCE decidir quanto ao plano de compra de ativos (maioritariamente, dívida pública) que pôs em marcha para ajudar a debelar a crise de financiamento de alguns países da zona euro, o chamado ‘Quantitative Easing’ (QE). A data estabelecida para o fim da ajuda do BCE era março de 2017.

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“A pouco mais de três meses dessa data, já é mais ou menos consensual que o QE não vai acabar abruptamente em março. Por isso, governos, bancos e investidores esperam que Mario Draghi anuncie um prolongamento. A grande dúvida é saber até que ponto o BCE tem margem de manobra para continuar a comprar 80 mil milhões de euros de ativos”, explicou. Entre os cenários apontados, continuou, está o prolongamento da data, com redução do montante das compras, manutenção do montante das compras e indicação da data de fim do plano, ou não definição da data de fim, mas “assegurar que esta ajuda não é eterna”.

Na mesma linha, o economista-chefe do Montepio Geral, Rui Bernardes Serra, antecipa o alargamento temporal do programa pelo menos até setembro, “com uma probabilidade de 50% de que o ritmo de compras mensais possa passar a ser inferior ao atual, a partir de março (o término do atual programa)”. Na última reunião, sinalizou, Draghi admitiu ser muito pouco provável assistir-se a uma interrupção abrupta do atual programa, sugerindo a existência de um período de redução gradual do ritmo de compras de ativos.

Para o gestor da corretora XTB, Eduardo Silva, “esta reunião será a mais importante dos últimos meses e a especulação é total”. Por um lado, refere, existe a expectativa de que poderá ser anunciada uma nova ronda de estímulos, uma vez que a instabilidade política tem vindo a aumentar. Por outro lado, continua, “o otimismo de Draghi nas últimas intervenções, juntamente com os bons dados económicos, tornam igualmente possível que o organismo opte por manter tudo inalterado, enquanto observa os indicadores dos próximos meses para tomar uma posição”.

O gestor de ativos da Orey Financial, José Lagarto, referiu que “com o perigo deflacionista, para já, a ficar afastado e a recuperação económica cada vez mais uma realidade, é plausível questionar se estará nos planos do BCE o início da retirada do programa de compra de ativos”. “Mas o BCE terá de pesar as implicações a médio prazo dos recentes acontecimentos, de alguma forma disruptivos, como foram a eleição de Donald Trump nos EUA e o “Não” à alteração da constituição em Itália, que leva de novo o país para uma crise governativa”, sinalizou. Terá ainda, continuou, de fazer face à formalização da saída do Reino Unido da União Europeia e a um provável aumento de taxa de juro por parte da Reserva Federal norte-americana (Fed) já na próxima semana.

O economista-chefe da Allianz Global Investors, Franck Dixmier, estimou também que, “muito provavelmente”, o BCE irá estender o seu programa de compra de ativos entre seis a nove meses.