O partido de Marine Le Pen, a Frente Nacional, nunca escondeu no seu programa político (que o Observador aqui analisou ponto por ponto) que é anti-imigração e até xenófobo. Mas agora Le Pen vem contradizer (acentuando mais ainda o seu carácter anti-imigração) algo que havia definido no programa político: a educação.

A candidata presidencial, discursando num comício em Paris, começou por garantir não ter “nada contra os estrangeiros” que vivem em França. Mas atirou em seguida — “O que lhes digo [imigrantes] é: se vêm para o nosso país, não esperem que cuidemos deles, que os tratemos [nos hospitais públicos] ou que os seus filhos sejam educados gratuitamente em França. Isso vai terminar. O ‘recreio’ acabou.”

O que com os imigrantes se poupar, garante Marine Le Pen, será direcionado para os franceses. Sobretudo os mais carenciados. “Vamos poupar os nossos esforços e a nossa solidariedade para os mais humildes, os mais modestos e os mais pobres dos nossos”, explicou.

Mas voltemos à contradição entre o discurso populista de Le Pen e o que o programa político da Frente Nacional apregoa. A propósito da escola pública e da educação, a Frente Nacional é aqui, e pela primeira vez no programa político, critica não só em relação a Hollande como a Sarkozy. Ao segundo acusa-o de ter “suprimido escolas e professores numa perspetiva puramente contabilística”. Quanto ao atual Presidente da República, a Frente Nacional promete reverter a decisão socialista de fechar escolas com menos de 200 alunos. Quanto aos imigrantes, apenas um referência, vaga, e onde nunca se fala em proibir o acesso à escola: aos pais de alunos que, sendo imigrantes em França, não sejam fluentes em francês, será obrigatório frequentar aulas de francês.

A poucos meses da eleições presidenciais em França — e quando ainda se espera que o candidato socialista seja o atual primeiro-ministro Manuel Valls –, Le Pen surge logo atrás de François Fillon nas sondagens, cabendo aos dois vir a disputar uma segunda volta eleitoral, a qual será vencida por Fillon. Aguardemos.

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