Ventos de 200km/h deixaram, a 23 de dezembro de 2009, um rasto de 50 milhões de euros de prejuízos em Torres Vedras, concelho que fez das dificuldades então criadas oportunidades de crescimento.

Volvidos seis anos, o atual presidente da Câmara, Carlos Bernardes, vereador da Proteção Civil à época, recorda a madrugada em que, após ter sido acordado às 4h, foi obrigado a convocar as entidades da Proteção Civil para uma reunião, ainda nessa madrugada, na qual o Plano Municipal de Emergência acabou por ser acionado.

Mas foi só depois de sobrevoar de helicóptero o território que teve uma noção mais real do problema. “Era ver para crer o que aconteceu naquela noite. Jamais imaginaria ver uma viga de seis metros de pré-esforçado que voou e que se espetou na empena de uma casa”, recorda.

Ventos ciclónicos, a velocidades superiores a 200km/h, nunca tinham ocorrido até então em Portugal.

Por ocorrer de madrugada, o fenómeno não fez vítimas, mas deixou um rasto de destruição, com postes de média e alta tensão de eletricidade partidos e danos na rede elétrica – deixaram a população sem energia durante dois dias -, na rede viária, na rede de gás, em equipamentos municipais, casas, escolas, antenas de telecomunicações e empresas.

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“Não havia memória de algo assim”, lembra o autarca, para quem esta foi uma experiência que o marca para toda a sua vida.

Contudo, foi na agricultura que os prejuízos foram mais avultados, com estufas de produção de tomate e de outros hortícolas parcial ou totalmente destruídas.

“Era um desespero ver agricultores com o trabalho de muitos anos no chão e a dizer que preferiram ter ficado sem a sua casa em vez das estufas, que era a sua fonte de rendimento”, refere António Gomes, ainda esta sexta-feira, o presidente da Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO).

E continua: “havia projetos de jovens agricultores, que se tinham endividado, que estavam na fase final de conclusão e ficaram todos destruídos”.

O dirigente agrícola recorda que o vento vergou e chegou mesmo a partir “estruturas em ferro de dez e 12 centímetros de diâmetro” usadas para erguer as estufas.

A AIHO, que na ocasião deu apoio técnico aos agricultores no levantamento dos danos para efeitos de serem ressarcidos por fundos comunitários destinados a repor o potencial agrícola, estima que dos 550 hectares de estufas existentes em Torres Vedras, 450 ficaram afetados, o que representou um prejuízo de 30 milhões de euros só para a agricultura.

Produtos como tomate e alface, duplicaram de preço nos mercados.

Com resiliência, equipas de bombeiros, da Proteção Civil, do município, da EDP e privados trabalharam horas a fio em limpezas e na resolução dos problemas. “Rapidamente o concelho voltou à normalidade”, recorda o autarca.

Mesmo na rede elétrica, em que existiam danos avultados, ao fim de dois dias a população voltou a ter eletricidade.

Na agricultura, os produtores “arregaçaram mangas” para limpar despojos, recuperar o que era possível e voltar a produzir, para tentar salvar o ano agrícola, “enchendo-se de esperança” quanto ao futuro.

Para aqueles responsáveis, o concelho renasceu. Carlos Bernardes explica que sobretudo a rede elétrica foi melhorada, reduzindo o número de falhas de energia. “Foi uma lição para todos nós. Se voltar a acontecer, estamos mais capacitados” a todos os níveis, acrescenta o autarca.

Com as ajudas comunitárias, os agricultores conseguiram voltar a pôr de pé as estufas destruídas, reforçando-as com estruturas mais resistentes ao mau tempo, mas não se ficaram por aí.

Nos últimos seis anos, investiram 40 a 50 milhões de euros, aumentando a área de produção coberta para os 700 hectares.

Com os ventos ciclónicos, passaram a recorrer mais aos seguros e as seguradoras viram aí um meio de negócio, criando seguros com cobertura de danos de estufas e alterando a oferta que até então existia.