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Espanha. Pais ficaram com 300 mil euros de fundo solidário

Este artigo tem mais de 5 anos

Os pais de Nadia Nerea, uma menina de 11 anos que sofre de uma doença rara, foram detidos e acusados de burla por terem ficado com 300 mil euros em donativos. Pais inventaram operações e tratamentos.

Fernando Blanco, pai de Nadia Nerea, foi preso por burla
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Fernando Blanco, pai de Nadia Nerea, foi preso por burla

nadianerea.org

Fernando Blanco, pai de Nadia Nerea, foi preso por burla

nadianerea.org

Médicos e cientistas consultados, operações delicadas, viagens por vários países em busca de tratamento e até uma estadia de um mês no Afeganistão à procura de um especialista, foram relatadas pelo pai de Nadia Nerea, que desde 2008, em nome da fundação com o nome da filha, angariou mais de 300 mil euros em donativos. Ao que parece, nem tudo decorreu exatamente como os pais, sempre emocionados nas muitas declarações públicas, contaram.

Nadia Nerea e os pais, numa fotografia divulgada nas redes sociais

O caso de Nadia Nerea comoveu Espanha. A sua morte iminente e amplamente anunciada pelos pais devido à doença rara da qual padece gerou uma onda de solidariedade sem precedentes. Desde 2009 que Fernando Blanco e Marga Garau, os pais de Nadia, angariaram fundos sob a alçada de uma associação criada para o efeito. Só na semana passada, a família de Nadia recebeu em quatro dias 153 mil euros em doações, após um jornal espanhol ter contado mais uma vez a história da menina que apesar de ser criança, devido à doença, aparentava ter 80 anos. Mas desta vez o relato tinha um contorno extra: o pai de Nadia tinha sido diagnosticado com um cancro do pâncreas, mas recusava-se a fazer tratamento porque queria estar a 100% com a sua filha .

Não vou a nenhuma porcaria de médico até que minha filha esteja encaminhada”, disse o pai de Nadia, quando voltou a pedir ajuda para a causa da filha.

A história de Nadia foi, mais uma vez, partilhada milhares de vezes e gerou uma onda de apoio pelas redes sociais. Com a hashtag #UnaGranHistoriaDeAmor foi replicada para descrever o amor do pai, que se recusava a tratar o próprio cancro, em prol da filha.

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O dinheiro voltou a cair na conta solidária, mas agora foi descoberto que, afinal, esse dinheiro nunca foi usado para os tratamentos da menina. Depois de ter sido detido pela polícia espanhola, Fernando Blanco admitiu que mentiu em alguns momentos e que em vez de levar a menina a especialistas, consultava, geralmente, curandeiros. Através das redes sociais fez ainda saber que pretende devolver todo o dinheiro.

Nadia sofre de tricotiodistrofia, uma doença genética rara para a qual não há tratamento conhecido. As principais manifestações da doença consistem no atraso no desenvolvimento físico e mental, sinais de envelhecimento prematuro e fotossensibilidade.

As desconfianças sobre a campanha solidária começaram depois de o pai da menina ter divulgado que se tinha deslocado aos Estados Unidos para consultar um especialista, de nome Ed Brown, vinculado à NASA e próximo dos vencedores do prémio Nobel de Medicina de 2013, de modo a que Nadia fosse sujeita a uma intervenção cirúrgica que lhe poderia salvar a vida. O pai referiu na altura que a operação seria revolucionária e só possível nos EUA uma vez que seria uma “manipulação genética proibida em Espanha”. O homem chegou a explicar que cirurgia implicaria fazer “três buracos na nuca” da criança para proceder ao tratamento. O jornal El País foi investigar as informações e não conseguiu qualquer confirmação. A partir daí foi levantado o véu das suspeitas judiciais, depois ainda de vários médicos terem vindo a público declarar que esse procedimento clínico não seria exequível.

Guardar provas para final feliz

Os pais da criança participaram em diversos programas televisivos, deram dezenas de entrevistas, mas em todas elas um ponto em comum: nunca mostrava provas dos locais por onde tinham passado, nomeadamente fotografias. Quando o questionavam sobre o assunto revelava que estaria a guardar esse material para um dia escrever um livro, quando Nadia tivesse finalmente um final feliz.

O pai de Nadia foi detido pela polícia espanhola

Mãe foi libertada, mas fica sem a guarda da filha

Marga Garau, de 44 anos, foi igualmente detida, mas após audição no Tribunal Superior de Justiça da Catalunha foi libertada sob fiança. No entanto, o juiz asseverou que a menor terá de ficar a cargo de outro familiar, retirando provisoriamente a guarda da menor aos progenitores.

Segundo a investigação, os pais terão utilizado o dinheiro para proveito próprio. A casa onde vivem, em Fígols, na Catalunha, tem uma renda de 9.800 euros por ano e, ao que tudo indica, era paga com o dinheiro que chegava através dos donativos. Foi ainda apurado que a família comprou recentemente um automóvel, no valor de 24.500 euros.

A mãe disse em entrevista que o marido não lhe dava detalhes dos tratamentos da filha, mas ela sempre acreditou porque “confiava nele” e defendeu-o:

Ponho a mão no fogo pelo meu marido e sei que ele não fez nada. Ele só exagerou um pouco a história”, diz a mãe de Nadia.

Depois de a investigação do El País ter vindo a público, a mulher salientou, numa entrevista, que já haviam tentado devolver o dinheiro, mas que a conta da associação estava trancada por ação judicial.

A mãe de Nadia diz que confia no pai

Dinheiro, relógios e marijuana apreendidos

Durante as buscas ao apartamento do casal a polícia encontrou 1.845 euros e dinheiro, 32 relógios topo de gama, avaliados em mais de 50 mil euros, muitos aparelhos eletrónicos de primeira linha e também uma pequena quantidade de marijuana. No automóvel do suspeito encontraram ainda mais dinheiro, telemóveis, relógios e também uma pistola de alarme. Aliás, a detenção do homem foi formalizada no automóvel, depois deste ter fugido de um controlo policial, na região de próxima de Cerdanya. Na altura, foi justificada a detenção pelo risco de fuga face à recente investigação que tinha sido iniciada.

Pai tem antecedentes criminais

Fernando Blanco tem cadastro e em 2000 foi condenado, em Palma de Maiorca, onde vivia na altura, a uma pena de quatro anos e dez meses de prisão, por ter desviado 120 mil euros na empresa onde trabalhava.

Agora, e perante todo este cenário, o magistrado responsável pelo caso quer averiguar não só o rol de mentiras sobre os tratamentos da filha do casal e, sobretudo, se a menina sofre efetivamente da doença genética referida pelos pais. O caso promete novas revelações nos próximos dias.

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