O presidente do Futebol Clube do Porto explicou esta segunda-feira, em entrevista ao Jornal de Notícias, o porquê de o FCP ter sido o único clube dos três grandes a assinar contrato de direitos televisivos com a Altice/MEO em vez de negociar com a NOS, tal como fizeram Benfica e Sporting. Segundo Pinto da Costa, a proposta da MEO era “muito melhor” do que a da empresa concorrente e nem um almoço com o empresário e amigo Joaquim Oliveira, na véspera da reunião, o convenceu do contrário.

“Criou-se uma guerra com a ideia de que nós trocamos, mas trocamos porque fomos obrigados a trocar. Se me pagavam 19 milhões [por ano] e depois já me davam 39 milhões e depois afinal cobriam qualquer oferta, então andei a ser vigarizado durante muitos anos. Andaram a fazer de nós anjinhos”, disse Pinto da Costa referindo-se ao contrato que o clube teve durante décadas com a Olivedesportos, do empresário e amigo Joaquim Oliveira, e cuja validade se estende até à época de 2016/2017.

A partir de 2018/2019 os direitos de transmissão televisiva dos jogos que o Futebol Clube do Porto realize, em casa, no campeonato estão nas mãos da Altice/MEO. A duração do contrato vai até 10 épocas. O contrato inclui ainda o direito de exploração comercial de espaços publicitários do Estádio do Dragão durante o mesmo período. Segundo o presidente do clube, a primeira reunião que teve foi com a NOS, mas a proposta foi de 320 milhões por dez anos. “Fiz contas de cabeça e isso dava menos de 20% por ano”, conta Pinto da Costa na entrevista concedida esta noite ao JN. “O Antero [Henrique, na altura administrador da SAD portista e responsável pela pasta do futebol profissional] ainda perguntou ao Miguel [Almeida, da NOS] se não chegava aos 40 milhões por ano”, mas nada feito, acrescenta.

Daí que foi marcada a reunião com a MEO, para o dia 23 de dezembro, recorda. Mas antes, Pinto da Costa conta ter recebido “um telefonema” de Joaquim Oliveira, que detinha à data 50% da Sport TV, a meias com a NOS, para irem almoçar. Durante o almoço o empresário da Olivedesportos, segundo Pinto da Costa, ter-lhe-á dado um “papel que não tinha valor jurídico nenhum”. Foi, portanto, com essas duas hipóteses que o presidente do FCP, juntamente com Adelino Caldeira e Fernando Gomes, partiu para a reunião com a MEO.

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Sublinhando que “não conhecia ninguém” da Altice/MEO, Pinto da Costa conta que “quando apresentaram a proposta, a proposta era muito melhor, superior aos 400 milhões [por dez anos]”. Por isso, diz, “fizemos o contrato”.

A zanga com Joaquim Oliveira

Quanto a Joaquim Oliveira, cujas relações “esfriaram” desde então, Pinto da Costa põe as culpas no empresário. “Nem esfriaram nem deixaram de esfriar, eu tinha combinado com ele, como de costume, irmos jantar ao Altis na véspera de um jogo do FC Porto com o Sporting, e ainda hoje estou à espera. Tive de me vir embora, ele deixou de aparecer e deixou de me falar”, conta.

Já sobre a saída de Antero Henrique, em setembro, Pinto da Costa nega estar de relações cortadas com o ex-administrador que tinha a pasta do futebol. Antes pelo contrário. “Mantenho excelentes relações com ele mesmo depois de ter saído”, disse. Então se as relações são boas porque é que saiu? “O que ele me disse não vou revelar, mas autorizo-o a revelar. O que posso dizer é que as nossas relações não esfriaram e a prova é que [Antero Henrique] se mantém como representante do FCP na Liga”, acrescentou.

Questionado sobre se Antero Henrique é um bom candidato à sucessão de Pinto da Costa na presidência do clube, limitou-se a dizer que “se tem as quotas em dia, então é candidato à sucessão”. “Isto não é uma monarquia, o FCP é um regime democrático e quem há-de escolher são os sócios”, afirmou, admitindo que “por ordem natural das coisas” este será o seu último mandato. Questionado sobre se vê gente com capacidade para lhe suceder no cargo, não hesita: “umas 500, ou 510”.

O filho e o Footbal Leaks: “Não me preocupa”

Questionado sobre as notícias que dão conta do alegado envolvimento da empresa filho Alexandre Pinto da Costa, a Energy Soccer, no escândalo do Football Leaks, Pinto da Costa começou por dizer que, “para ser franco, não estou a acompanhar. É um problema que não me preocupa”, para logo a seguir desvalorizar a questão:

“O FC Porto livrou-se de um salário grande e de um jogador que estava a mais. A mim não me interessa nada se o empresário é meu filho, primo, sogro, genro, amigo ou inimigo. Se o negocio for bom para o FC Porto eu faço, se não for não faço. O Leaks descobriu o Oblak, o Ronaldo, o Mendes e a capa do Expresso era o meu filho. Estou orgulhoso dele, porque deve ser muito importante para fazer capa do Expresso, só por receber duas comissões, que não sei se recebeu ou não. As pessoas caem no ridículo. Há milhões de euros em causa, com Oblaks, Ronaldos e Mourinhos e a notícia é o Alexandre Pinto da Costa. Faz-me pena”, disse.

De acordo com o semanário Expresso, a empresa do filho do presidente do FC Porto estará envolvida em, pelo menos, duas transferências que violam a lei nacional no que se refere aos empresários desportivos. A Energy Soccer terá cobrado um valor tanto ao clube de origem como ao de destino, o que não é permitido. “Foi a empresa do Alexandre que colocou o Rolando no Marselha. Além de deixarmos de pagar quase um milhão em salários, ainda recebemos cerca de mais um milhão”, disse ainda, assumindo que foi um bom negócio.

Nuno Espírito Santo? “Estou satisfeito”. “Se tudo correr dentro da normalidade, o FCP será campeão”

Pinto da Costa não está preocupado com a situação atual do Futebol Clube do Porto. “É mau quando o golo não aparece, mas péssimo é quando não se criam oportunidades. O treinador sempre garantiu que os golos iam acabar por acontecer. Se tudo correr de forma natural, acredito que podemos ser campeões”, disse na mesma entrevista, acrescentando que “é notório que o FC Porto já se reergueu”.

Sobre o sorteio dos oitavos de final da Liga dos Campões, o otimismo manteve-se, com o presidente dos dragões a dizer que quem teve azar foi a Juventus por lhe ter calhado o Porto pela frente. “Quando esta equipa não tinha a experiência que tem hoje e saiu a Roma [pré-eliminatória da Champions], eu disse: ‘coitada da Roma’. Na altura, todos se riram. Nós fomos lá e vencemos por 3-0. A Juventus não teve sorte no sorteio”, disse.

Já sobre Nuno Espírito Santo, também não há qualquer problema, garante. “Estou satisfeito. A equipa joga bem e cria muitas oportunidades. A chegada do Nuno Espírito Santo ao F. C. Porto foi completamente diferente de Lopetegui, apesar de serem ambos representados pelo Jorge Mendes. Tenho uma grande relação com Nuno. Foi meu jogador, foi a minha escolha, claro que com o acordo da administração. Há uma relação de amizade, mas cada um tem o seu lugar no clube”, disse.