O exército da Birmânia queimou 1.500 casas em aldeias da minoria muçulmana rohingya no noroeste do país, denunciou, esta terça-feira, a organização Human Rights Watch (HRW), de defesa dos Direitos Humanos.

A organização usou imagens de satélite para calcular o número de casas queimadas desde que o exército lançou uma operação, há dois meses, no estado de Rakhine, depois de um assalto a postos policiais que as autoridades atribuíram a elementos da minoria rohingya. A HRW cita ainda, num relatório, relatos de dez rohingya que fugiram para o Bangladesh e que acusam os militares pela queima das casas.

Estas denúncias somam-se a outras de diversos ativistas e organizações que têm acusado o exército da Birmânia de execuções, violações e saques na região, dirigidos aos rohingya naquela região, que mantém fechada à ajuda humanitária ou a observadores independentes. As Nações Unidas dizem que 150 mil pessoas recebiam ajuda humanitária antes do assalto que desencadeou a operação militar, que levou pelo menos 21 mil rohingya a fugir para o Bangladesh. O exército e o Governo da Birmânia têm negado as acusações e atribuem a destruição de casas a elementos dos rohingya.

A HRW pede às autoridades que abram o acesso à zona à ajuda humanitária e a observadores, repetindo um apelo que já foi feito pelas Nações Unidas e por 14 representações diplomáticas na Birmânia. Na semana passada, as Nações Unidas instaram também a líder de facto do Governo birmanês, a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, a proteger os rohingya.

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O conselheiro especial do secretário-geral da ONU para a Birmânia, Vijay Nambiar, disse que a organização continua “seriamente preocupada” com a situação no estado de Rakhine e lamentou a atitude “defensiva” das autoridades, que evitam admitir os abusos, em vez de ajudarem os civis, falando em deceção a nível local e internacional. “Estou convencido de que Aung San Suu Kyi ouve e compreende as preocupações da comunidade internacional”, disse Nambiar, citado num comunicado em que insta a Nobel da Paz a visitar aquela zona e a dar garantias de segurança à população que ali vive.

“Peço a Suu Kyi que reflita (…) e fale diretamente ao povo da Birmânia, para serem superadas as diferenças étnicas e religiosas e haver avanço na dignidade humana, rumo à harmonia e à cooperação entre comunidades”, acrescentou. Só com “uma resposta concreta a estas preocupações” o Governo será capaz de resolver esta crise “e de preservar a sua posição internacional”, diz ainda.

Suu Kyi disse, também na semana passada, numa entrevista à televisão Channel News Asia, que a população budista da Birmânia teme o crescimento da minoria muçulmana e pediu à comunidade internacional para não “alimentar o ressentimento” entre as duas comunidades. O ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, também já visitou a região e pediu proteção para as vítimas da violência e o acesso de ajuda humanitária.

A 25 de novembro, um representante do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) afirmou que a Birmânia está a fazer uma “limpeza étnica” da minoria muçulmana rohingya. Mais de um milhão de rohingya vivem em Rakhine, onde sofrem uma crescente discriminação desde o surto de violência sectária em 2012, que causou pelo menos 160 mortos e deixou cerca de 120 mil pessoas confinadas em 67 campos.

A Birmânia não reconhece a cidadania aos rohingya – quer as Nações Unidas dizem ser uma das minorias mais perseguidas do planeta – considerando-os imigrantes bengaleses, e impõe-lhes restrições, incluindo a privação de movimentos.