O presidente da Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (Anopcerco), Humberto Jorge, disse esta quarta-feira que os aumentos das quotas da pesca para 2017 estão “globalmente dentro das expectativas”, mas lamentou a redução na pescada.

Os ministros das Pescas da União Europeia chegaram na madrugada desta quarta-feira a acordo sobre os totais admissíveis de capturas (TAC) e respetivas quotas nacionais, numa maratona negocial de 16 horas, que resultou num aumento para Portugal de 11%, correspondente a quase 121 mil toneladas que poderão ser capturadas no próximo ano. Portugal viu os cortes da pescada reduzidos a 5% em 2017, quando a proposta da Comissão Europeia era de 34%.

“Está globalmente dentro das expectativas que criámos, mas lamentamos a diminuição de 5% da pescada, que não se justifica”, disse Humberto Jorge, à Lusa.

Humberto Jorge afirmou que “há aumentos que são obviamente positivos”, como o relativo ao tamboril, “uma quota importante para a frota costeira polivalente”, e que cujas capturas aumentam em 54%.

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A Anopcerco lamenta a redução de 5% da pescada e justifica: “Porque é uma quota que já está num nível bastante baixo e não condiz com o aumento do recurso que se está a verificar neste momento pela frota pesqueira. Essa é uma questão em que nem sempre há esse encontro com a realidade”.

Humberto Jorge reforçou que no caso da pescada, “no mínimo tudo devia ficar como estava” e abordou as suas preocupações.

“Receamos que possa acontecer o mesmo de há quatro ou cinco anos, quando se verificou que o recurso estava numa situação de recuperação e estava-se a baixar a quota ainda mais, o que nos provoca imensas dificuldades de gestão, porque depois as necessidades de pesca são muito superiores à quota que está em vigor. E é isso que não queremos que se repita”, disse.

A Anopcentro teme ainda que o mesmo possa acontecer com o biqueirão, elogiando por um lado o aumento de 18% da quota, mas por outro sublinhando que “há de facto uma abundância enorme, até anormal”, de biqueirão na costa portuguesa, pelo que os 18% não condizem com a realidade.

“É um aumento positivo para a frota do cerco, apesar de acharmos que está muito aquém daquilo que seria expectável porque o aumento do recurso na nossa costa é muito superior ao que estava anteriormente. por isso, achamos que devia ter aumentado bastante mais”, reiterou.

Positivo é também o aumento de 5% do lagostim que, segundo Humberto Jorge, “condiz com o aumento claro do recurso sul nas águas portuguesas”.

“Ainda assim, é uma quota em que já temos muita dificuldade em gerir durante o ano, mas sempre irá permitir aliviar mais um bocadinho esta pescaria”, disse.

Após 16 horas de negociações, que começaram na terça-feira de manhã e terminaram já na madrugada desta quarta-feira, Portugal fez valer os argumentos científicos que davam conta do bom estado dos ‘stocks’ de pescada em águas nacionais e, a partir de 01 de janeiro, poderão ser capturadas 2.936 toneladas desta espécie.