O Parque Nacional da Gorongosa (PNG) continua a registar uma recuperação da vida selvagem, que foi quase dizimada durante a guerra civil em Moçambique, segundo uma contagem realizada este ano, a que a Lusa teve acesso.

A contagem, feita de helicóptero pelos serviços do PNG entre 18 e 31 de outubro, cobrindo a área que de maior densidade de vida selvagem do parque, registou a existência de 78.627 animais de 19 espécies, sobretudo grandes herbívoros, contra os cerca de 70 mil observados em 2014.

O PNG considera que “a recuperação da vida selvagem continua a progredir bem”, apesar da seca nos últimos dois anos, que teve “um impacto significativo em várias espécies”, da instabilidade política e militar que afeta a região e da pressão da caça furtiva.

Através da contagem aérea, a segunda em dois anos e considerada um instrumento “crítico para avaliar a evolução da recuperação [da vida selvagem] e a eficiência da gestão do parque”, o inhacoso (um grande antílope também conhecido como piva) representa mais de metade das espécies, com cerca de 45 mil indivíduos, mais 10 mil do que em 2014.

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As populações de impala (que quase duplicou para 4.705 ocorrências comparativamente a 2014), de inhala (1.299 face às 964 anteriores) e de cudu (1.466 contra 1. 223) “tiveram subidas substanciais”.

O relatório aponta igualmente resultados positivos na população de pala-pala (que eram 786 e agora são 810), e os elefantes e os búfalos, apesar da seca, tiveram um aumento (para 567 e 696 respetivamente), mas abaixo do esperado.

O número de bois-cavalos (ou gnus) manteve-se estável, uma preocupação já manifestada em 2014.

O PNG observa que espécies mais pequenas parecem ter sido bastante mais atingidas pelos efeitos da seca, incluindo a imbabala, o porco do mato o chango, o oribi e o facocero, devido aos seus hábitos mais seletivos de alimentação.

As zebras mantêm-se estáveis, com uma população de 34 indivíduos, das quais 15 mantidos em território cercado no chamado Santuário, segundo os dados da contagem, que deverão ser divulgados, esta quarta-feira, na 3.ª Gala do PNG, em Maputo.

O PNG lembra que a contagem diz respeito a um número mínimo, numa área de 184. 500 hectares totalmente coberta pela pesquisa e correspondente aos melhores habitats e maior densidade de vida selvagem, mas outros animais ocorrem noutras zonas do parque e dos quais não foi realizada nenhuma estimativa.

A contagem também não abrange a população de leão, devido à dificuldade de observação por via aérea, mas os dados registam a existência de cerca de 80 indivíduos e uma subida em relação a 2014.

Dados oficiais indicam que, durante a guerra civil em Moçambique de 16 anos, encerrada em 1992, o parque perdeu 95% dos seus animais.

Numa contagem realizada em 1972, o PNG contava, por exemplo, com cerca de 14 mil búfalos, 2.500 elefantes, 3.500 hipopótamos e outras tantas zebras, 6.500 gnus e ainda a ocorrência frequente de leão e leopardo, espécie entretanto extinta no parque e que deverá ser reintroduzida no próximo ano.

Em 2007, o Estado moçambicano assinou um contrato de gestão conjunta do PNG com fundação do filantropo norte-americano Gregory Carr, com a vigência de 20 anos, e desde então o parque tem conhecido assinaláveis níveis de recuperação e atraído turistas e cientistas de todo o mundo.

Mais recentemente, o PNG assinou a 30 de novembro um acordo com o Entreposto para a conversão de mais de 200 mil hectares de uma coutada de caça contígua em área de proteção total.

Ao abrigo do acordo, o PNG começará trabalhos conjuntos com o grupo Entreposto de avaliação ecológica, levantamentos junto das comunidades locais e análise de potencial turístico na Coutada 12, e que poderá levar ao alargamento da atual maior área protegida moçambicana e que apresenta um dos maiores níveis de biodiversidade da África Austral.

O documento só terá validade com um decreto do Conselho de Ministros moçambicano, ao qual cabe delinear as áreas protegidas do país.