A organização Amnistia Internacional disse, esta segunda-feira, que as ações do exército birmanês contra a minoria étnica muçulmana rohingya nos últimos dois meses podem constituir crime contra a humanidade, com base em informações de violência.

A Birmânia tem sido criticada pelos alegados abusos do exército contra os muçulmanos rohingya e organizações internacionais acusaram os militares de execuções, violações e queima de casas em aldeias daquela minoria. “As forças armadas da Birmânia visaram os civis rohingya numa sistemática campanha insensível de violência”, disse Rafendi Djamin, diretor da Amnistia Internacional para o sudeste asiático.

“A deplorável ação do exército pode ser parte de um ataque generalizado e sistemático contra a população civil e podem constituir crimes contra a humanidade”, acrescentou.

A Amnistia Internacional divulgou, esta segunda-feira, um relatório a descrever as acusações. O documento surge no dia em que a líder de facto do governo, Aung San Suu Kyi, deverá encontrar-se com membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático numa reunião na cidade birmanesa de Rangum.

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A ação dos militares foi desencadeada na sequência de ataques a 9 de outubro contra postos da polícia no estado de Rakhine, no oeste do país, que as autoridades atribuíram a elementos da comunidade rohingya. Aquele estado tem sido o epicentro das tensões entre rohingya e budistas, que são a maioria da população no país.

A Amnistia Internacional advertiu que a escala e extensão da violência não são claras, uma vez que os militares fecharam o estado de Rakhine aos observadores internacionais, incluindo trabalhadores de agências humanitárias. Mas relatos de testemunhas oculares detalham casos de homicídio, pilhagens e violações.

O relatório da Amnistia acompanha as preocupações expressas num relatório do International Crisis Group divulgado na semana passada, segundo o qual as políticas repressivas do governo estão a radicalizar os rohingya, as críticas do alto comissário para os Direitos Humanos dos Estados Unidos, Zeid Ra’ad al-Hussein, e outras denúncias e apelos de organizações como a Human Rights Watch (HRW) ou as Nações Unidas.

A Amnistia Internacional insta o Governo da Birmânia a parar imediatamente as hostilidades, a abrir Rakhine às organizações de ajuda humanitária e a permitir investigações independentes. Mais de um milhão de rohingya vivem em Rakhine. A Birmânia não reconhece a cidadania aos rohingya — que as Nações Unidas dizem ser uma das minorias mais perseguidas do planeta — considerando-os imigrantes bengaleses, e impõe-lhes restrições, incluindo a privação de movimentos.