Membro da Organização Mundial do Comércio desde 2001, a adesão da China ao organismo fundado em 1995, e sedeado na Genebra, teve como dois dos seus principais objectivos cativar para o país investimento estrangeiro e permitir às empresas domésticas acederam à mais recente tecnologia desenvolvida no Ocidente. No caso do sector automóvel, tal desiderato tentou ser alcançado através de uma regulamentação que obrigava os operadores estrangeiros a estabelecerem joint-ventures com empresas locais no caso de pretenderem operar diretamente no mercado local.

Década e meia volvida, a estratégia revelou algumas virtudes, mas também ficou marcada por alguns insucessos. Com a abertura ao exterior e o boom económico, a China é hoje o maior mercado automóvel mundial, e não há fabricante que se preze que não o encare com especial atenção, não faltando os que criaram as tais empresas em parceria com as marcas locais para aí estarem presentes de forma directa.

O reverso da medalha é que a tal transferência de tecnologia não se terá concretizado (ou, pelo menos, da forma que originalmente se pretendia), ao passo que a maioria dos construtores de automóveis detidos pelo Estado chinês, quase todos envolvidos em joint-ventures com fabricantes estrangeiros, não lograram criar marcas rentáveis, continuando a respectiva sobrevivência a depender dos lucros gerados por essas parcerias, ao contrário do que acontece com algumas marcas locais privadas, que até já começam a expandir-se para outros mercados.

Terá sido esta a razão que levou as autoridades chinesas, que há já alguns anos vinham afrouxando as regras de acesso ao mercado local de empresas estrangeiras do sector automóvel (marcas como fabricantes de componentes), a revogar agora a lei que as impedia de deter mais de 50% nas suas joint-ventures destinada à produção de baterias. Por outras palavras, passou a ser possível a uma empresa não chinesa produzir, na China, automóveis eléctricos e baterias sem ter que partilhar a sua tecnologia com um parceiro chinês.

A medida, além de tender a fomentar o investimento no país numa área com cada dia maior predominância no sector automóvel, poderá traduzir-se, ao mesmo tempo, num salto decisivo para o desenvolvimento da mobilidade eléctrica a nível global, tendo em conta quer a dimensão do mercado chinês, quer os incentivos que o Governo de Pequim tem vindo a implementar para fomentar as vendas de automóveis eléctricos no país. Sendo esta uma área em que, pelo seu potencial, o segredo continua a ser, em boa parte, a alma do negócio, e é natural que quem detenha soluções tecnológicas mais avançadas não as queira partilhar com terceiros.

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