Os Estados Unidos poderão ter negociado com as autoridades palestinianas antes da votação da resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre os colonatos israelitas — em que os EUA se abstiveram, permitindo a aprovação do documento que critica Israel pela instalação destes colonatos em territórios palestinianos. A informação, publicada esta semana no diário israelita Haaretz, baseia-se num documento secreto — cuja autenticidade ainda está por comprovar — divulgado por um site noticioso egípcio, e que dá conta de uma reunião entre representantes dos EUA e da Autoridade Palestiniana dez dias antes da votação da resolução.

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Segundo o documento, a delegação norte-americana, composta pelo secretário de Estado, John Kerry, e pela conselheira para a Segurança Nacional, Susan Rice, encontrou-se com um conjunto de responsáveis palestinianos em Washington, liderado pelo secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina, Saeb Erekat. Nesse encontro, as duas delegações terão chegado a um acordo sobre os termos ideais para a resolução do conflito israelo-palestiniano, condição fundamental para que os Estados Unidos deixassem passar a resolução, bastante crítica da atuação israelita. Foi o que acabou por acontecer: a resolução foi aprovada com 14 votos favoráveis e com a abstenção dos EUA (que abdicaram do direito de veto).

Segundo o Haaretz, o documento de cinco páginas, escrito em árabe, terá sido divulgado por fontes do governo egípcio — país que apresentou, originalmente, a proposta de resolução ao Conselho de Segurança da ONU. Se o encontro tiver acontecido, destaca o jornal israelita, vem confirmar as suspeitas levantadas pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que acusou a Casa Branca de conspirar contra Israel.

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No relatório divulgado pelo site egípcio lê-se, de acordo com o Haaretz, que durante o encontro entre os responsáveis americanos e palestinianos, Kerry e Rice garantiram a Erekat que a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, estaria disponível para se encontrar com o embaixador palestiniano, Riyad Mansour, para debaterem a situação dos colonatos.

Todo o conteúdo do documento divulgado foi negado pelo porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Mark Toner, que sublinhou que não foi discutida, no encontro, a posição americana no conflito. A reunião deveria ser mantida em segredo, especialmente devido ao momento atual que se vive nos EUA, com a transição para a equipa de Trump.

A entrada de Trump na Casa Branca é, aliás, um dos fatores de maior preocupação tanto dos EUA como da Palestina, já que o presidente eleito defende a política de Netanyahu no que toca aos colonatos (que tem sido motivo de afastamento entre Obama e o governo israelita). Importa recordar que o Egito apresentou, a 22 de dezembro, uma proposta ao Conselho de Segurança da ONU, mas desistiu de a apresentar individualmente. O presidente egípcio abandonou a proposta depois de Netanyahu ter conversado com Donald Trump — forte apoiante de Israel –, que convenceu depois Abdel Fattah el-Sisi a não apresentar a resolução nas Nações Unidas. O mesmo texto foi apresentado no dia seguinte por um conjunto de quatro países (Malásia, Nova Zelândia, Senegal e Venezuela). O documento, aprovado pelo Conselho de Segurança, destaca a “inadmissibilidade da aquisição de território pela força”.

Uma das preocupações registadas no relatório divulgado é precisamente sobre Trump. A Conselheira para a Segurança Nacional, Susan Rice, terá aconselhado os palestinianos a levar em consideração as ameaças de Trump relativamente à mudança da capital de Israel para Jerusalém e à anexação de partes da Cisjordânia. E a resposta de Erekat a essa eventualidade também vem descrita no relatório: a Organização para a Libertação da Palestina deixaria imediatamente de reconhecer a soberania de Israel, terminaria as relações diplomáticas entre os dois países e iria juntar-se de imediato às agências da ONU de que ainda não faz parte e apelaria aos países árabes que expulsassem os embaixadores norte-americanos. A administração de Obama tem criticado duramente as posições de Israel, acusando Netanyahu de querer construir apenas um estado na região — um “Grande Israel”.