Um dirigente da Renamo foi assassinado, esta quinta-feira, a tiro por desconhecidos na cidade de Nampula, norte de Moçambique, no segundo dia da trégua temporária declarada pelo maior partido de oposição, disse à Lusa o porta-voz da força política.

António Muchanga informou que José Naitela — membro da comissão política provincial e chefe da secção de relações exteriores em Nampula da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) — foi assassinado ao início da tarde no seu carro num mercado negro de venda de combustível. Contactado pela Lusa, o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, Zacarias Nacute, confirmou o homicídio, que ocorreu entre as 12h e as 13h locais, num lugar movimentado da cidade. O porta-voz da PRM desconhecia mais detalhes sobre o caso, referindo que as perícias de balística estão a decorrer e que a polícia vai investigar.

Segundo Muchanga, o crime foi cometido com “o mesmo modo de atuação” dos esquadrões da morte que a Renamo alega estarem a operar no centro e norte de Moçambique, visando a eliminação de dirigentes do partido de oposição. “As informações que vêm do terreno indicam isso, a não ser que a polícia traga as pessoas que fizeram o crime”, disse o porta-voz da Renamo sobre a possibilidade de motivações políticas para o homicídio.

Muchanga não quis porém estabelecer uma relação entre o caso e a trégua de uma semana declarada pelo presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, após uma conversa telefónica com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e que entrou em vigor às 24h de quarta-feira. “O dia de ontem foi bom e estava a correr tudo bem até às 12h de hoje [quinta-feira]”, limitou-se a comentar.

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Antes de tomar conhecimento deste homicídio, o porta-voz do Comando-Geral da PRM disse à Lusa que a situação era calma. “Não registámos qualquer perturbação e, até ao momento, as pessoas transitam normalmente nestes pontos”, afirmou Inácio Dina, referindo-se às principais estradas do centro de Moçambique e que têm sido as mais atingidas pelo conflito.

Inácio Dina disse, no entanto, que, apesar da calma registada, as escoltas militares obrigatórias vão continuar nos troços das vias mais ameaçadas, para garantir a segurança das populações. “Este processo faz parte do nosso trabalho. Continuaremos a fazer o que vinha sendo feito”, reiterou o porta-voz da PRM.

Na terça-feira, o líder da Renamo anunciou uma trégua de uma semana como “gesto de boa vontade”. Por sua vez, o Presidente moçambicano defendeu, na quarta-feira, que a trégua de uma semana deve servir para encorajar o diálogo visando uma paz duradoura.

Moçambique atravessa uma crise política e militar, marcada por confrontos, no centro e norte do país, entre o braço armado do principal partido de oposição e as Forças de Defesa e Segurança, além de denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes. A Renamo acusa a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) de ter viciado as eleições de 2014 e exige governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.

Os trabalhos da comissão mista das delegações do Governo e da Renamo pararam em meados de dezembro sem acordo sobre o pacote de descentralização, um dos temas essenciais das negociações de paz, e os mediadores abandonaram Maputo, referindo que só regressarão se forem convocados pelas partes.

O Presidente moçambicano propôs à Renamo a criação de um grupo de trabalho especializado, “sem distinção política” nem a presença do atual grupo de mediadores para discutir o pacote de descentralização, mas Dhlakama já disse que não vai ceder na presença da mediação internacional.

Além do pacote de descentralização e da cessação dos confrontos, a agenda do processo negocial integra a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, e o desarmamento do braço armado da oposição e sua reintegração na vida civil.