Diogo Lacerda Machado, o assessor do Governo e amigo de António Costa que liderou o grupo de trabalho responsável pela proposta de acordo com os lesados do BES, diz que o executivo está a pedir ao Santander que apresente uma nova proposta de solução para os chamados lesados do Banif. Em entrevista ao Público e à Renascença, Lacerda Machado sublinhou que espera que o Santander, “tendo percebido que a solução [apresentada inicialmente] não funcionou para a larguíssima maioria destes lesados, desenhe agora uma outra solução”.

O Santander, que em 2015 ficou com grande parte da atividade do Banif, apresentou inicialmente uma proposta de solução para os clientes que tinham perdido investimentos, que acabou por ser recusada pela maioria dos lesados. “Objetivamente não era uma solução que desse resposta aos anseios dos lesados”, explica Lacerda Machado. Agora, o negociador assume que o Governo já pediu ao Santander que apresente uma nova proposta, que poderá ser aceite pelo banco espanhol. “Tive uma conversa exploratória que correu bem. Não senti que não viesse a haver uma possibilidade adiante”, destaca.

Na entrevista, Lacerda Machado falou também sobre os lesados do Grupo Espírito Santo, caso que está próximo de ficar resolvido depois da apresentação de um acordo entre o Governo e a associação de lesados (detalhado aqui pelo Observador). O responsável garantiu que “o risco de os contribuintes poderem ter que envolver algum do seu dinheiro nesta solução é ínfimo. Sublinho, ínfimo”. E acrescentou: “Não consigo dizer que não existe porque também não sei se amanhã não há um tremor de terra ou coisa que o valha”.

Lacerda Machado admitiu ainda que os contribuintes poderão ter de vir a pagar a conta no que diz respeito aos investidores qualificados, uma vez que o acordo alcançado agora é apenas para os investidores não qualificados. “Se não for entretanto encontrada uma solução, designadamente por via negocial”, reconhece que poderá ter de ser o Estado. As soluções “por via de acordo são soluções a que as pessoas, porque as constroem elas próprias, se vinculam até no plano moral e ético”, e podem poupar dinheiro “a todos”.

O assessor do Governo sublinhou ainda que o acordo alcançado agora para os investidores não qualificados teve como principal prioridade salvaguardar os interesses de pessoas que estavam “em estado de aflição absoluta”, uma decisão imposta pela Comissão Parlamentar de Inquérito que tratou do caso. “Algumas delas estão em situação dramática do ponto de vista financeiro, porque tinham ali posto a totalidade das suas poupanças e aqueles juros, que não eram tanto às vezes como se imagina, faziam parte da sua estrutura de rendimento mensal”, afirma. E é por isso, justifica Lacerda Machado, que há lesados a preferir receber apenas uma parcela do dinheiro que perderam, em vez de receber a totalidade mais tarde. O fundo criado agora “vai cobrar os 485 milhões e não apenas os 286 milhões que vão ser adiantados em três anos”, o que significa que pode, “adiante, vir a haver dinheiro para entregar aos lesados”.

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