Pés ensanguentados, avanços inapropriados e horários de trabalho cruéis. O filme Serenata à Chuva, de 1952, é visto como um clássico cujo enredo bem-disposto deixa quem o vê igualmente bem-disposto. Mas o glamour de Hollywood também tem um lado negro: o britânico The Telegrah recorda algumas das histórias de bastidores que Debbie Reynolds, que faleceu esta quinta-feira aos 84 anos, chegou a contar.

Debbie — mãe da também falecida Carrie Fisher, a princesa Leia de Star Wars — tinha apenas 19 anos quando conseguiu o seu primeiro grande papel, o qual a projetou para o estrelato: falamos da personagem de Kathy Selden que tão bem canta e dança no filme já referido. Ao contrário do que se possa pensar, a lenda de Hollywood foi alvo de bullying por colegas de elenco e foi levada a extremos, de tal forma que o médico exigiu que a atriz fizesse uma pausa nas filmagens.

A resposta do estúdio MGM passou pela toma de “vitaminas” que a atriz recusou, preferindo ao invés seguir as ordens do médico. Citada pelo The Telegraph, Reynolds chegou a contar: “Estas foram provavelmente as mesmas ‘vitaminas’ que arruinaram Judy Garland. O meu médico insistiu que ficasse de cama. A decisão pode-me ter salvo de uma vida de estimulantes”. Garland, a atriz de O Feiticeiro de OZ, foi encontrada morta aos 47 anos de idade, depois de uma vida pessoal bastante atribulada e marcada pelo consumo de drogas.

A isso acrescenta-se o facto de Gene Kelly, o protagonista da história, ser contra a presença de Reynolds no filme por estar convencido de que a atriz não estava talhada para o papel: Reynolds não tinha qualquer experiência no universo da dança e teve apenas três meses para estar à altura de um papel de dançarina exímia.

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Reynolds e Kelly acabaram por ficar amigos, mas antes disso houve um outro episódio de contornos caricatos: quando chegou a altura de trocarem o primeiro beijo diante das câmaras, Kelly fez um avanço inapropriado. “A câmara aproximou-se. Gene segurou-me firmemente nos seus braços e meteu a sua língua dentro da minha garganta”, contou a atriz que, sendo “uma criança inocente” que nunca recebera tal beijo, reagiu com alguma surpresa. “Eu estava chocada por este homem de 39 anos fazer-me isto”.

Fazem ainda parte dos relatos apresentados pelo jornal britânico as exigências físicas do papel. Serve disso exemplo as filmagens de uma das canções do filme, que durou desde as 08h00 às 23h00 e deixou a atriz com os pés ensanguentados.

Apesar dos desafios e exigências da longa-metragem de 1952, este foi sempre um dos grandes papéis da atriz que aos 84 perdeu a vida um dia depois da filha.