Nuno Simas, ex-diretor-adjunto da Agência Lusa, que se demitiu na sequência da nomeação de Mafalda Avelar para o cargo de subdiretora de informação da agência noticiosa, reiterou esta terça-feira, no Parlamento, as críticas à nomeação da jornalista para desempenhar aquelas funções, considerando a decisão da direção liderada por Pedro Camacho uma “falha grave”.

“O facto de não ter experiência de redação e de direção é, quanto a mim, uma falha grave, num atual estado da Lusa em que, passados cinco anos em que vivemos com cortes feitos pelo anterior governo, voltámos a respirar um bocadinho de oxigénio. A minha opinião é que a opção podia e devia ter sido outra”, defendeu Nuno Simas.

O jornalista foi ouvido esta tarde, na Comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no âmbito de um requerimento apresentado pelo grupo parlamentar do PSD. Perante as perguntas dos deputados, Nuno Simas repetiu em grande medida os argumentos que já tinham estado na génese do seu pedido de demissão:

O perfil devia ser outro. Mais do que se preocupar com uma internacionalização ou com a captação de fundos, acho que um subdiretor deveria ter um perfil ligado à economia, que ajudasse no dia-a-dia”.

O ex-diretor-adjunto da Lusa falou ainda no contexto de precariedade em que estão muitos dos jornalistas da agência noticiosa, defendendo, de resto, que se impunha uma aposta prioritária e decidida na “estabilização” destes quadros. Para Nuno Simas, no entanto, não foi esta a orientação dos responsáveis da Agência Lusa.

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Recorde-se que a nomeação de Mafalda Avelar mereceu o parecer negativo, mas não vinculativo, do conselho de redação (CR) da Agência Lusa. Na altura, o CR emitiu um comunicado onde escrevia que “atendendo ao currículo da jornalista e ao lugar que vai ocupar” e “à falta de experiência de chefia e de trabalho em redação” Mafalda Avelar não reunia condições para assumir o cargo. O parecer negativo foi votado por unanimidade. A direção da Lusa teve um entendimento diferente, o que motivou o pedido de demissão de Nuno Simas, como explicava aqui o Observador.

Pedro Camacho justifica-se: “A Lusa precisa de uma pessoa que esteja interessada em fazer coisas diferentes”

Depois de Nuno Simas, foi a vez de Pedro Camacho, diretor de informação da Lusa, dar conta do seu ponto de vista na comissão parlamentar. O jornalista justificou a escolha de Mafalda Avelar argumentado que esta personaliza, pelo menos em parte, a “mudança de paradigma” que se impõe à agência noticiosa.

“Acho que o que a Lusa precisa neste momento é de uma pessoa que esteja interessada em fazer coisas diferentes e que tenha o potencial de capacidade para o fazer”, afirmou Pedro Camacho.

Lembrando que a agência noticiosa enfrenta hoje um sem-número de desafios e que “tem de se preparar para um futuro que está a mudar muito depressa”, o diretor de informação explicou que a Lusa tem de ter a capacidade de “produzir informação mais complexa e mais adequada aos clientes” e de “fazer novas parcerias com agências internacionais”, de forma a conseguir acompanhar a evolução dos seus congéneres europeus e preencher um espaço importante no mercado da lusofonia.

Uma mudança de paradigma, explicou ainda Pedro Camacho, que deve ter em conta a procura de “fontes de financiamento externo” alternativas e “o grande salto tecnológico” que se exige à Lusa. Para o diretor de informação da agência noticiosa, Mafalda Avelar reúne as condições necessárias para assumir essa função a tempo inteiro — algo que até agora não existia.

Perante as dúvidas levantadas por vários deputados em relação ao currículo e competência da nova diretora-adjunta da Agência Lusa para desempenhar estas funções, Pedro Camacho reafirmou a confiança na competência de Mafalda Avelar. “Fiz uma escolha consciente”, insistiu o jornalista.

O diretor de informação da Agência Lusa acabou por lamentar ainda a demissão de Nuno Simas. “Infelizmente para mim o Nuno Simas foi embora. Tenho muita pena”, assumiu.

Mafalda Avelar, 46 anos, é licenciada em Economia pela Universidade Nova de Lisboa e tem um mestrado em Relações Internacionais pela John Hopkins University. É jornalista desde 1999 e colaborou com órgãos de comunicação social brasileiros, entre os quais a Folha de São Paulo e a Gazeta Mercantil. Foi correspondente do semanário O Independente em São Paulo, Buenos Aires, Bolonha e Washington, e, de acordo com um perfil publicado no blogue Livros à Volta do Mundo, de que é autora, trabalhou nos departamentos de marketing do Público e da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa. Assina uma coluna semanal no Correio da Manhã e apresentou o programa “Ideias em Estante”, na Económico TV.