Chiara Ferragni, Camila Coutinho, Sara Sampaio, Luis Borges, Kanye West, Aimee Song e Camila Coelho. Esta é a lista de celebridades que Gonçalo Silva, português de gema, teve o privilégio de encontrar nas últimas semanas de moda internacionais como fotógrafo de moda. De boné na cabeça e ténis nos pés, viaja de Paris a Nova Iorque para correr de desfile em desfile atrás de tendências, modelos e digital influencers. O homem por trás da câmara é tímido, ambicioso q.b. e um tanto ou quanto esquecido. Recusa-se a aparecer em frente à câmara — salvo raras exceções — “porque gosta de observar em vez de ser observado”. Um aspirante a Bill Cunningham — o lendário fotógrafo de moda do The New York Times — que, mesmo sem bicicleta, vive da fotografia aos 27 anos. “Como é que és fotógrafo de moda e ninguém te conhece em Portugal?”, perguntam-lhe numa breve visita a Lisboa. A resposta é simples: vive na capital francesa há quatro anos e tem os olhos postos lá fora.

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Gonçalo Silva tem 27 anos e deixou a cidade de Almada porque “queria ter outro tipo de vida, viver noutra cidade e ter outro tipo de amigos”. (foto: Gonçalo Silva)

“Aos 22 anos, quase com 23, mudei-me para Paris depois de passar seis meses em Helsínquia, na Finlândia, à procura de trabalho em design”, diz Gonçalo Silva ao Observador. Formado pelo IADE, partiu de armas, bagagens e máquina fotográfica para a Cidade Luz sem apoio financeiro dos pais. “Sempre encarei a fotografia como um hobby mas um dia perguntaram-me se eu não achava que tinha mais talento para a fotografia do que para o design. Fez tudo sentido.” Criou um Tumblr para partilhar sessões com modelos e, quando deu por si, estava à saída dos desfiles de Valentino, Hermès e Chloé, na Semana de Moda de Paris, a fotografar a blogger Chiara Ferragni e a partilhar o melhor estilo de rua na sua conta de Instagram.

Tive a sorte dela republicar três das fotos para os seus sete milhões de seguidores e fiquei viciado na fotografia de street style“, explica.

Através de uma recomendação num comentário, Gonçalo Silva recebeu o convite da digital influencer Camila Coutinho para a fotografar durante a semana de moda de outono/inverno 2016-17. “Quando tu trabalhas com uma pessoa com dois milhões de seguidores tens de lidar com a pressão de fotografares três looks diariamente, mais eventos”, conta. “Senti uma enorme impotência porque ainda não estava preparado fisicamente e ela teve de usar outros fotógrafos. É muito cansativo.” Meses depois, voltou a Lisboa para acompanhar a presença da blogger na ModaLisboa, passou a ser o fotógrafo da equipa da Camila Coutinho e conheceu os portugueses Luis Borges e Raquel Strada, com quem viria a colaborar.

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Raquel ???? @raquelstrada #pfw #streetstyle

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Já com o francês na ponta da língua, foi escolhido pelo diretor criativo da Loewe, Jonathan Anderson, para cobrir os bastidores do desfile da marca na redes sociais. Mas o ponto de viragem, a nível de seguidores, reconhecimento e evolução, só chegou em setembro de 2016. “Tinha o sonho de fotografar a Semana de Moda de Nova Iorque porque o meu objetivo não é só crescer em Portugal mas crescer internacionalmente. Arranjei dinheiro para a viagem, tirei umas férias de sonho e, de repente, apareceu-me uma quantidade de trabalho que não estava à espera como, por exemplo, fotografar a [modelo] Ana Sofia Martins”, confessa. Pelo meio, ainda apanhou Kanye West à saída do desfile Off-white, Sara Sampaio à porta de Miu Miu e Camila Coelho e Aimee Song depois de Michael Kors.

O que acontece com a fotografia de street style é que posso estar a trabalhar com vários clientes ao mesmo tempo e ainda fotografar looks de outras pessoas e personalidades”, diz ao Observador.

Seguiu-se a Semana de Moda de Londres, Milão, Paris, a ModaLisboa e o Portugal Fashion. A primeira temporada completa. A nível nacional, elogiam-lhe a personalidade forte e o estilo clássico que tem tanto de urbano como de elegante, mas nem isso o faz querer voltar a Portugal. “Quero continuar em Paris mas é complicado viver da fotografia de moda porque não faço campanhas ou editoriais. O street style é uma paixão mas, a longo prazo, adorava fotografar editoriais e vê-los publicados numa revista como a Vogue Paris”, admite com timidez. Entretanto, para pagar as contas vai fotografando casais e turistas pelas ruas de Paris. “Os meus pais dizem que os artistas não vivem das suas paixões e têm de ter um trabalho. Então eu trabalho para ser artista.”