O vice-presidente da bancada parlamentar do Partido Socialista, João Galamba, considera que a nacionalização é a melhor opção para o Novo Banco porque colocar o banco na esfera pública “não traz novos custos”, só reconhece os que “sempre existiram”, disse o deputado ao Diário de Notícias esta segunda-feira. Uma posição que pode ser partilhada por outros socialistas. Já no sábado, em declarações ao semanário Expresso, o presidente do PS, Carlos César, tinha dito que as propostas recebidas pelo Fundo de Resolução (um veículo coordenado pelo Banco de Portugal onde os bancos colocam fundos para o caso de alguma instituição precisar de auxílio) são “quase vexatórias”.

Quase uma vergonha porquê? Porque esta semana Banco de Portugal anunciou que pretende desenvolver negociações com o fundo Lone Star, que segundo algumas análises da imprensa terá apresentado uma oferta de 750 milhões de euros pelo Novo Banco, prometendo investir mais 750 milhões na instituição, mas exigindo a obtenção de garantias do Estado português para cobrir eventuais prejuízos com crédito incobrável. Carlos César afirmou ao Expresso que “o Governo deve resistir a uma venda ruinosa” e que apesar do objetivo final continuar a ser a venda, “a nacionalização pode ser uma etapa para a reprivatização mais tarde”.

João Galamba, que há cerca de um ano tinha pedido mais argumentos a quem defendia a nacionalização do banco, parece ter optado por apoiar precisamente esta solução porque os custos para os contribuintes já foram assumidos, “em 13 de agosto de 2014, com o Fundo de Resolução”, disse Galamba, que considera que “o banco foi nacionalizado nesse dia e o passivo passou para o Estado”, e, por isso, “nacionalizar de facto não traz novos custos, apenas reconhece custos que sempre existiram”.

A proposta do fundo Lone Star não descansa Galamba. “Se aquela proposta de que se fala é verdade [venda por 750 milhões de euros + 2500 milhões de euros de garantias do Estado], o banco tem um valor negativo de 1750 milhões, ou seja, o Estado tem de pagar para o comprador ficar com o banco”, disse o deputado ao DN. “Uma das piores coisas que se pode fazer a um banco é pôr-lhe um carimbo de ‘transitório para venda’ “, diz ainda o dirigente acrescentando que a nacionalização permitira retirar-lhe esse peso tornando o Novo Banco um banco “normal” que seria mais fácil para Portugal vender quando houvesse uma boa proposta e não pressionado por um prazo específico, que neste momento é agosto de 2017.

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Não vender já permitiria olhar para as deficiências do banco e de todo o setor que, na opinião de João Galamba, são “a sua baixa taxa de rentabilidade e o elevado volume de crédito mal parado”. Seria por isso sempre melhor resolver este problema “que afeta o valor do banco”, e só depois disso pensar em vender. Ora a única opção que permite tempo e espaço para tornar o banco perfeitamente funcional e atrativo e melhores propostas é a nacionalização.

Depois de o próprio ministro das Finanças, Mário Centeno, não ter colocado de parte a hipótese de trazer o Novo Banco à esfera pública, Eurico Brilhante Dias, mais uma voz do PS próxima dos assuntos da banca, defende, falando igualmente com o DN, a possibilidade da nacionalização. “É um cenário que se deve manter em cima da mesa” porque “o Estado tem de ter uma arma negocial para não ter de ceder a todas as vontades de quem quer que o banco lhe seja oferecido”, disse Brilhante Dias acrescentando que “se aquilo que é proposto é, aparentemente, uma venda de valor negativo” e se “pelo Novo Banco apenas se interessam fundos de private equity”, então “isso é preocupante porque não não há nenhum banco europeu interessado em incorporar nos seus ativos a terceira quota de mercado em Portugal.”

Marques Mendes: “Há risco de um novo BPN”

Nos últimos meses, várias personalidades têm vindo a defender a nacionalização como melhor solução para o Novo Banco e o apoio estende-se da esquerda à direita. Francisco Louçã, Manuela Ferreira Leite ou José Maria Ricciardi são alguns dos nomes que não descartam a hipótese.

Ricciardi, ex-presidente do Haitong Bank, lembrou à SIC Notícias que a filosofia dos fundos de investimento como o Lone Star “é gerar retornos elevados sem adotar uma visão estratégica” e que, se no caso do Novo Banco, “a intenção for partir o banco aos bocados”, a nacionalização seria a melhor opção para o interesse nacional. Isto porque, defende Ricciardi, “o Novo Banco desempenha uma missão essencial no financiamento da economia, sobretudo no tecido de pequenas e médias empresas e constitui uma das melhores escolas da banca comercial portuguesa”.

Já Marques Mendes, ex-líder do PSD, mostrou-se um pouco mais cético no seu habitual comentário de domingo na SIC. “Eu não quero ser desmancha-prazeres, mas não dou muito para esse peditório, acho que é um perigo”, disse Marques Mendes que elencou alguns logo de seguida. “Primeiro há o risco de o Novo Banco se tornar um novo BPN que foi primeiro um caso de polícia, depois um caso de política e que resultou em um completo desastre financeiro; depois há o facto de que a nacionalização pressupõe o aumento do capital ou seja, tem o mesmo efeito na dívida, no défice, nas contas de Estado que teria uma garantia a um comprador; e, terceiro, Bruxelas pode opor-se já que o governo enviou uma carta em julho onde se comprometia com venda ou liquidação, nacionalização não”.

Marques Mendes deixou ainda um último aviso: mesmo que Bruxelas autorize a nacionalização, “a reestruturação pode ser tão forte e tão pesada, quer do ponto de vista social quer do ponto de vista financeiro, que se pode vir a assemelhar a uma liquidação”. O governo não tem ainda posição oficial, mas garante que não está preparado para passar garantias de Estado a qualquer comprador – precisamente aquilo que a Lone Star parece exigir.