Foi no Salão de Birmingham de 1988 que a Jaguar mostrou o primeiro protótipo do que viria a ser um dos seus modelos mais mal-amados e, ao mesmo tempo, mais emblemáticos de sempre: o XJ220. A ideia partiu de um grupo de colaboradores da marca de Coventry, e visava criar um automóvel autorizado a circular na via pública que ilustrasse os êxitos por si obtidos nas corridas de resistência, tanto nas 24 Horas de Le Mans como nos míticos Grupo C, e se pudesse inscrever na categoria dos supercarros. Afinal, vivia-se aquela que terá sido (pelo menos em termos de projecção e radicalismo) a época de ouro deste tipo de proposta, sendo contemporâneos do XJ220 modelos inesquecíveis como o Bugatti EB110, o Cizeta-Moroder V16T, o Ferrari F40, o Lamborghini Diablo VT ou o Porsche 959.

Na sua especificação original, tal como foi revelado no certame britânico, este fabuloso coupé de dois lugares e linhas por demais aerodinâmicas e arrojadas montava um V12 atmosférico de 6,2 litros em posição central traseira e um sistema de tracção integral permanente, com a sua designação a indicar a velocidade máxima que era objectivo que viesse a alcançar: 220 milhas por hora (cerca de 354 km/h).

O desenvolvimento da versão de produção foi feito em colaboração com a TWR, de Tom Walkinshaw, estrutura que com tão bons resultados havia feito correr, durante anos, os carros da Jaguar. E, para o efeito, foi até criada uma nova empresa: a Project XJ220 Ltd.

Com o evoluir do projecto, e tendo em conta a concorrência, duas decisões foram tomadas que acabaram por marcar de forma indelével o XJ220: a eliminação da tracção integral, por troca com a tracção traseira, e a adopção de um motor 3.5-V6 a 90° com dois turbos Garrett T03, oriundo da competição, em lugar do V12 aspirado. Afinal, aqueles que eram considerados os seus dois maiores rivais já tinham enveredado por semelhante via – o F40 montava um V8 biturbo, o 959 um seis cilindros Boxer sobrealimentado, ambos com 2,9 litros de capacidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Chegados a 1992, ano do seu lançamento comercial, muitas mais alterações haviam sido feitas ao projecto primordial do XJ220 (supressão das portas de abertura vertical, da direcção às quatro rodas, da suspensão pilotada, da aerodinâmica activa). Algumas em nome da simplicidade, outras da redução do peso.

Mas também não faltou quem visse aqui uma perversão excessiva da ideia original em prol de uma redução dos custos. Certo é que, com a ajuda da recessão que marcou o início da década de 1990, somente 271 exemplares foram produzidos até 1994, a um preço de venda unitário de 470 mil libras, cifra bastante inferior aos cerca de 1.500 depósitos de 50 mil libras que, em 1988, haviam sido efectuados como pré-reservas do modelo. O que não deixou de configurar um fracasso face às expectativas iniciais. E uma certa injustiça. Afinal, e apesar de tudo, o XJ220 não deixava de exibir um argumentário de respeito: chassis e painéis da carroçaria em alumínio, 540 cv de potência e 644 Nm de binário, caixa manual de cinco velocidades montada em bloco com o diferencial traseiro autoblocante de acoplamento viscoso, sistema de travagem AP (originalmente sem servo-freio, que acabou por ser montado em resultado das queixas de alguns clientes), jantes Speedline de 17” na frente e 18” atrás, direcção directa sem assistência, pneus Bridgestone Expedia S.01 assimétricos.

Com tudo isto, o modelo constou do livro do Guiness como o automóvel de produção em série mais rápido do mundo entre 1994 e 1998, graças à velocidade máxima de 217,1 mph (349,38 km/h) obtida no anel de Nardó com Martin Brundle ao volante. E não se pense que os seus muitos atributos lhe permitiam andar depressa apenas a direito: foi sua a volta mais rápida ao circuito antigo de Nürburgring, o mítico Nordschleife, entre 1992 e 2000.

Com o passar dos anos, tem aumentado exponencialmente o interesse em torno deste muito sui generis representante de uma época, também ela, muito especial da indústria automóvel. E a Bridgestone, fornecedora do equipamento pneumático original, decidiu celebrar os 25 anos do XJ220 de forma não menos criativa: desenvolvendo para o modelo novos pneus que incorporam todo o progresso tecnológico alcançado neste domínio ao longo dos últimos anos.

E foi assim que os engenheiros da marca nipónica se juntaram aos seus congéneres da Don Law Racing (empresa britânica especialista no XJ220 e em outros modelos clássicos, e de Grupo C, da Jaguar), estando já a testar o chassi nº 004 deste mítico desportivo no Centro de Testes da Bridgestone, perto de Roma, com as novas borrachas. Em breve, será possível conhecer os resultados de uma demanda que reuniu, ainda, a equipa original de pilotos e engenheiros de desenvolvimento do XJ220. Os indefectíveis do modelo decerto que aguardam ansiosamente.