Depois de 78,5% dos militantes do Movimento 5 Estrelas terem votado para os eurodeputados daquele partido saírem do grupo dos eurocéticos no Parlamento Europeu e passarem para a Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE), o líder dos liberais, Guy Verhofstadt, barrou a entrada ao partidários de Beppe Grillo. Apenas 16% quiseram manter o Movimento 5 Estrelas no grupo Europa pela Liberdade e Democracia Direta (EFDD, na sigla inglesa), composto por eurodeputados eurocéticos e liderado pelo britânico Nigel Farage.

A decisão do ALDE de não permitir a entrada do Movimento 5 Estrelas nas suas fileiras foi anunciada pelo seu líder no Parlamento Europeu, o ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt, que sublinhou as diferenças entre as posições defendidas pelo seu grupo parlamentar e o partido de Beppe Grillo. “Cheguei à conclusão de que não há garantias suficientes para promover de forma conjunta uma agenda para reformar a Europa. Continua a haver diferenças fundamentais em assuntos essenciais, como por exemplo a moeda comum, o euro”, disse Guy Verhofstadt, num vídeo partilhado na segunda-feira. Ainda assim, o líder parlamentar dos liberais falou em assuntos de “interesse comum” (como diz serem “a transparência, a democracia direta e o ambiente”) está disposto a “trabalhar de perto com o movimento”.

A entrada do Movimento 5 Estrelas na bancada parlamentar dos liberais foi uma possibilidade ponderada por Guy Verhofstadt, que chegou a estar reunido com Beppe Grillo para fechar um acordo, mas depois da oposição pública de alguns eurodeputados daquele grupo o pacto não foi para a frente. A entrada de mais parlamentares naquele grupo seria do interesse do ex-primeiro-ministro belga, que na semana passada anunciou a sua candidatura ao cargo de presidente do Parlamento Europeu. A votação acontecerá a 17 de janeiro.

Segundo o site Vote Watch, que monitoriza os votos dos eurodeputados e dos seus grupos parlamentares, a bancada com que o Movimento 5 Estrelas mais se identifica no que diz respeito ao sentido de voto é a do GUE/NCL, aquele que está mais à esquerda e que integra partidos como o PCP, o Bloco de Esquerda ou Syriza. Ao todo, votaram em sintonia em 74,2% das ocasiões. Segue o bancada parlamentos dos Verdes (72,9%), os Partido Popular Europeu (57,9%) e só depois, em quarto lugar, o ALDE, com 50,3% de votos iguais ao Movimento 5 Estrelas.

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O partido de Beppe Grillo é conhecido pelas suas posições eurocéticas, com destaque para a exigência de um referendo para a saída de Itália da zona Euro.

Em comunicado, o Movimento 5 Estrelas diz que o “establishment decidiu fechar a sua entrada” no grupo ALDE, que, caso tivesse aberto as portas ao partido de Beppe Grillo, passaria a ser o terceiro maior grupo no Parlamento Europeu — atualmente é o quinto.

“Todas as forças imagináveis moveram-se contra nós. Nós abanámos o sistema como nunca o tinha feito”, lê-se naquela pequena mensagem, onde ainda assim era dito que o Movimento Cinco Estrela “vai continuar o seu trabalho para criar um grupo político independente para a próxima legislatura europeia: o DDM”. A sigla significa Direct Democracy Movement — em português, Movimento Democracia Direta.

As próximas eleições para o Parlamento Europeu estão previstas para 2019. Ate lá, é possível que os deputados do Movimento 5 Estrelas se mantenham no grupo liderado por Nigel Farage. Isto porque, apesar de apenas cerca de 16% dos seus militantes terem votado pela permanência do Movimento 5 Estrelas no EFDD, a votação desta segunda-feira não é vinculativa e até agora nenhum dos eurodeputados italianos pediu para sair daquele grupo.

Antes da notícia da recusa de Guy Verhofstadt em dar lugar aos eurodeputados do Movimento Cinco Estrelas, Nigel Farage acusou o líder do Movimento 5 Estrelas de mudar de lado. “Beppe Grillo vai juntar-se ao establishment dos euro-fanáticos que apoiam ao TTIP, imigração em massa e um exército europeu, mas que se opõem à democracia direta”, disse num comunicado.