Depois da suspeita de influência por parte da Rússia nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016, é na Alemanha que se discute a possibilidade de Moscovo querer influenciar as eleições que vão determinar qual será o próximo governo germânico. As eleições alemãs, que ainda não têm data marcada, deverão acontecer entre agosto e setembro deste ano.

Essa possibilidade preocupa as esferas mais altas da política alemã, inclusive a chanceler, Angela Merkel, que concorre ao seu quarto mandato nas eleições deste ano. Numa conferência de imprensa no domingo, Angela Merkel disse que a Alemanha já estava a agir contra a possibilidade de ataques informáticos ou outro tipo de intromissões por parte da Rússia, dizendo que isso é já “uma tarefa diária”.

“Nós já estamos a lidar com informação que surge da Rússia e com ataques na internet que têm origem russa ou com notícias que espalham informações falsas”, disse no domingo. “Isto pode ter uma importância muito grande durante a campanha eleitoral”, admitiu a chanceler. Também o chefe dos serviços secretos internacionais alemães, Bruno Kahl, tinha dito em novembro que a interferência da Rússia nos processos políticos da Alemanha não só era um risco como uma realidade, falando em “indícios” que apontavam nesse sentido. “Temos provas de que está a haver ciberataques que não têm outro objetivo além de causar incertezas políticas”, disse Bruno Kahl ao Süddeutsche Zeitung. “Os responsáveis pelos ataques querem deslegitimar o processo democrático, independentemente de quem é que isso acabará por favorecer”, acrescentou.

Notícias falsas também preocupam

À semelhança do que está a ser debatido nos EUA, também na Alemanha há preocupação em torno da propagação de notícias falsas em sites que se servem das redes sociais para alcançarem um número alargado de leitores. O caso mais recente teve origem na versão britânica do Breitbart — o site noticioso de extrema-direita e plataforma principal do movimento Alt-Right, que foi dirigido por Stephen Bannon, nomeado por Donald Trump para chefe de estratégia depois de ter sido seu diretor de campanha.

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A 3 de janeiro, o Breitbart publicou na sua edição norte-americana uma notícia com o título: “Revelado: Uma Multidão de 1000 Homens Ataca a Polícia, Incendeia a Igreja Mais Antiga da Alemanha na Noite de Ano Novo”. A notícia dizia respeito a um grupo de homens de origem no Médio Oriente que se reuniram numa praça em Dortmund, onde fizeram explodir pequenos engenhos pirotécnicos. Esta prática é comum na Noite de Ano Novo em países como a Alemanha.

Na notícia do Breitbart, que teve mais de 17 mil partilhas só no Facebook, lê-se que aquele grupo de homens estava a “entoar ‘Allahu Akhbar’ em torno de uma bandeira da al-Qaeda e dos colaboradores do Estado Islâmico, o Exército Livre da Síria”. Na entrada da notícia, podia ler-se que aquele grupo “pegou fogo a uma igreja histórica”.

A notícia acabou por ser desmentida pela polícia de Dortmund, que disse que não tinha acontecido nada de “extraordinário ou espetacular” naquela noite. Além disso, o jornal local Ruhr Nachrichten, que o Breitbart cita na sua notícia, disse que aquele site da Alt-Right tinha distorcido as suas palavras e acusou-o de escrever “notícias falsas, ódio e propaganda”.

Em resposta, o diretor do Breitbart no Reino Unido disse que as acusações eram “notícias falsas sobre notícias falsas” e disse que estava a ser “atacada” pela “imprensa alemã, juntamente com políticos do establishment, a polícia da Alemanha e agências noticias internacionais de esquerda”. Segundo a Reuters, o Breitbart está em vias de se expandir para a Alemanha e para a França, onde abrirá sites próprios.

Numa entrevista à revista Der Spiegel, o líder da bancada parlamentar do SPD, o parceiro minoritário da coligação liderada pela CDU de Angela Merkel, defendeu a aplicação de multas contra o Facebook caso aquele site não reaja de forma rápida em casos de propagação de notícias falsas. “Se, depois de verificada, o Facebook não apagar imediatamente, dentro de 24 horas, um post ofensivo então poderá lidar com penas pesadas até aos 500 mil euros”, disse Thomas Oppermann àquela revista, explicando um projeto-lei que ia propor no Bundestag. Até agora, não há notícias de esta lei, ou outra semelhante, ter sido aprovada no parlamento alemão.