O antigo senador do Alabama Jeff Sessions, escolhido por Donald Trump para ocupar o lugar de procurador-geral na próxima administração norte-americana, foi ouvido esta terça-feira pelo Senado, uma audição necessária para o seu nome ser confirmado para o cargo. No início da segunda parte da audição, um conjunto de manifestantes invadiu a audição e gritou: “Black lives matter [as vidas negras importam, nome de um movimento norte-americano contra o racismo], Jeff Sessions é um racista!”.

Em todos os temas sobre os quais foi questionado, houve uma constante: “Vou cumprir a lei”. Mesmo que isso implique, admitiu, ir contra Trump caso discorde das posições do futuro presidente norte-americano.

Os senadores vão depois votar a confirmação de Jeff Sessions como procurador-geral. O Senado é controlado pelos republicanos, com uma maioria de 52-48. Isto significa, escreve o New York Times, que caso o próprio Sessions, que ainda ocupa um lugar de senador, participe na votação, é necessário que três republicanos sejam infiéis ao sentido de voto do partido. Se Sessions não participar, bastarão dois republicanos infiéis para bloquear a nomeação.

Pode ver aqui o vídeo da audição, na íntegra (em inglês):

Perante o comité judicial do Senado norte-americano, Jeff Sessions, cuja nomeação foi marcada por um conjunto de declarações e posições polémicas, está a discutir as questões relacionadas com os seus planos para quando ocupar a pasta da justiça na equipa de Trump, a partir de 20 de janeiro, quando o novo Presidente tomar posse. Conservador, anti-casamento homossexual, anti-legalização do comércio e consumo de canábis, Sessions, 69 anos, tem sido uma das vozes mais ativas contra a imigração ilegal, um dos principais temas da campanha eleitoral de Trump, que prometeu expulsar os cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem em território norte-americano. Leia aqui mais sobre as polémicas que envolvem Jeff Sessions.

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Expulsão dos muçulmanos? Não.

Durante a audição, Jeff Sessions tem estado a ser confrontado com alguns dos principais temas que marcaram a campanha de Donald Trump. O primeiro assunto polémico foi a expulsão dos muçulmanos, a que Sessions já se tinha mostrado favorável inicialmente. Questionado sobre se iria apoiar uma lei que impede os muçulmanos de entrarem nos EUA, Sessions respondeu de forma perentória: “Não”.

Investigar emails de Clinton? “Este país não castiga os inimigos políticos”

Era uma das promessas mais polémicas de Trump: mandar investigar os emails de Hillary Clinton. Mas acabou por desistir da ideia. Foi uma das questões colocadas esta terça-feira ao próximo procurador-geral. “Pretende recusar qualquer envolvimento com investigações à questão dos emails de Clinton e à fundação Clinton, se existir alguma?”, questionou o senador Charles E. Grassley. “Sim. Este país não castiga os inimigos políticos”. O que significa que, a ser iniciada alguma investigação pelo sistema de justiça norte-americano relativamente ao caso dos emails, o responsável pela pasta da Justiça irá manter-se afastado, para “não pôr em causa a objetividade”, depois de ter defendido uma investigação ao caso durante a campanha eleitoral.

Legalizar a tortura por waterboarding? “A lei é clara”

Outra das questões polémicas colocadas na audição foi relativa ao waterboarding — tortura que utiliza água para dar a sensação de afogamento, que foi utilizada pela CIA, mas agora é ilegal. Sessions, que já se tinha anteriormente mostrado a favor da utilização deste tipo de técnicas de tortura, confirmou perante os senadores que dificilmente o waterboarding será novamente legal — depois de Trump ter sugerido, no ano passado, que se trata de “uma forma menor de tortura” e que pode ser útil. A lei atual afirma que esta prática é “absolutamente imprópria e ilegal”, sublinhou o próximo responsável pela pasta da Justiça, o que significa que dificilmente haverá uma reversão.

Jeff Sessions foi ainda muito elogiado pelo senador Ted Cruz, que se candidatou à nomeação pelo Partido Republicano contra Donald Trump. Será um procurador “soberbo”, disse o senador texano, numa intervenção em que gastou mais tempo a criticar a administração de Barack Obama do que a questionar o futuro procurador-geral.

Sobre os imigrantes: “Se a interpretação das suas visões religiosas contiver doutrinas perigosas ou terroristas, merecem certamente escrutínio”

O até aqui senador pelo estado do Alabama foi confrontado pela senadora democrata Mazie Hirono com o facto de haver mulheres e pessoas pertencentes a minorias, como os homossexuais, que “estão assustados com o facto de sentirem que não têm lugar na América do presidente Trump”, e perguntou a Sessions o que é que entende por “visões extremas”, que, segundo as intenções de Trump deverão ser banidas do país. Em resposta, Sessions sublinhou que é o próprio Departamento de Estado que deverá decidir quais são as “visões extremas” consideradas. “Se a interpretação das suas visões religiosas contiver doutrinas perigosas ou terroristas, merecem certamente escrutínio”, explicou. Recorde-se que Sessions é contra a expulsão indiscriminada de todos os muçulmanos.