Os mapas do futuro Estado federal de Chipre vão ser, esta quarta-feira, apresentados em Genebra pela primeira vez desde a divisão da ilha em 1974, numa reunião entre o mediador da ONU e os dois dirigentes cipriotas grego e turco.

“Esses mapas não serão divulgados devido à extrema sensibilidade desta questão”, advertiu em declarações aos jornalistas o mediador e diplomata norueguês Espen Barth Eide. “É um momento muito importante, histórico”, declarou. “No passado nunca existiu uma troca de mapas criados pelas próprias delegações cipriotas”, recordou.

Eide precisou que serão apresentadas no final da tarde desta quarta-feira “numa sala especial com os dirigentes, eu próprio e um cartógrafo e cada delegação” e de seguida “transferidas para um cofre onde vão permanecer na posse da ONU”.

A ilha mediterrânica está dividida há mais de 40 anos, na sequência da invasão militar turca em resposta a um fracassado golpe de Estado fomentado pela junta militar no poder em Atenas e que pretendia a união de Chipre à Grécia.

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A República de Chipre, a “parte grega” da ilha, internacionalmente reconhecida e membro da União Europeia desde 2004, apenas exerce a sua autoridade na parte sul, onde se concentra a população cipriota grega.

Os cipriotas turcos ocupam a autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN, cerca de um terço do território e apenas reconhecida pela Turquia).

A partilha provocou o êxodo entre norte e sul de dezenas de milhares de cipriotas, que em caso de acordo deverão poder regressar às propriedades que abandonaram.

O mediador da ONU indicou que as posições das duas delegações sobre o traçado das futuras entidades apenas divergem “em um por cento”.

Apesar de largamente minoritários, os cipriotas turcos controlam atualmente 36% da ilha. Segundo os ‘media’ cipriotas, a liderança da República de Chipre estaria disposta a conceder-lhes 28,2% do futuro Estado federal “bicomunal e bizonal”, enquanto a parte turca reivindica 29,2%.

O Presidente de Chipre, o cipriota grego Nikos Anastasiades, e o líder cipriota turco Mustafa Akinci iniciaram segunda-feira no Palácio das Nações em Genebra, a sede europeia da ONU, negociações diretas para tentar solucionar as questões ainda pendentes antes da abertura, na quinta-feira, da Conferência sobre Chipre com os três “garantes” da segurança da ilha: a Grécia, a Turquia e o Reino Unido, antiga potência colonial.

Nesta reunião também estará presente o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, com o estatuto de “observador”.

Em La Valetta, onde esta quarta-feira participou na cerimónia que assinalou o início da presidência semestral de Malta na União Europeia, Juncker definiu a conferência internacional de quinta-feira como “a última oportunidade de facto para que seja encontrada uma solução para a ilha por uma via normal”.

Ainda numa referência a este encontro, o mediador da ONU esclareceu que os três países “garantes” de Chipre estarão representados na conferência internacional pelos seus ministros dos Negócios Estrangeiros.