Os candidatos às primárias da esquerda francesa, com vista às eleições presidenciais, estiveram frente a frente esta noite, naquele que foi o primeiro de quatro debates televisivos. O debate de quinta-feira, 12 de janeiro, durou duas horas e foi organizado por TF1, RTL e L’OBS.

Os sete candidatos — Manuel Valls, ex-primeiro-ministro demissionário, Vincent Peillon, ex-ministro da Educação, Arnaud Montebourg, ex-ministro da Economia, Benoît Hamon, sucessor de Peillon na Educação, no Partido Socialista, Sylvia Pinel (Partido de Esquerda Radical), François de Rugy (Os Verdes) e Jean-Luc Bennahmias (Frente Democrática) — trocaram ideias essencialmente sobre três temas: questões económicas e sociais, terrorismo e segurança, e ainda secularismo e identidade.

As primárias francesas disputam-se a 22 e a 29 de janeiro (primeira e segunda voltas, respetivamente) e, além do debate desta quinta-feira, outros dois estão marcados para 15 e 19 de janeiro, com um último a acontecer a 25 de janeiro, ainda antes da segunda volta.

A menos de 100 dias das presidenciais francesas, aqui ficam as principais ideias discutidas no primeiro debate televisivo da esquerda, que foi acompanhado em direto pelo jornal francês Le Monde.

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“Porque deve ser Presidente?”

Manuel Valls foi quem falou primeiro: “Amo a França. Fui presidente da câmara de Evry, fui primeiro-ministro. Governar é difícil e eu tenho experiência”. Valls disse estar no debate, diante do povo francês, para apresentar o seu projeto: uma República forte.

Sobre o mesmo tópico, Vincent Peillon afirmou que, tanto a esquerda, como a França, estão divididas e que quer ser o presidente que vai pôr as diferenças de lado. Já Sylvia Pinel defendeu conhecer as principais preocupações do povo francês — segurança, crescimento e emprego –, enquanto Arnaud Montebourg pediu a confiança do povo “para vencer a extrema direita” e o “candidato ultraliberal François Fillon”.

Sobre o desemprego e a renda universal

O ex-ministro da Economia Arnaud Montebourg afirmou ter um plano de ação que passa por “investir na recuperação económica e ecológica”, PME incluídas. Já Manuel Valls defendeu que a economia precisa “de estabilidade” e também de “um plano fiscal”, enquanto Sylvia Pinel propôs um “plano abrangente para apoiar as empresas”.

A discussão chegou rapidamente ao tópico da renda universal, que foi implementada na Finlândia — durante dois anos, um programa-piloto vai abranger 2.000 cidadãos que, a partir de janeiro, passam a receber 560€, independentemente de estarem ou não a trabalhar. Escreve o Le Monde que os candidatos Benoît Hamon e Jean-Luc Bennhamias apresentaram propostas a favor da renda universal. Sobre isso, Bennhamias defendeu que existência de uma renda universal não compreende apenas as camadas mais pobres, mas toda a sociedade, enquanto Hamon argumentou que a revolução digital trará consequências negativas para o emprego, pelo que a sociedade deverá “equipar-se” para o futuro.

Valls, por sua vez, afirmou querer uma “sociedade de trabalho” e Montebourg associou a escassez de mão de obra às políticas de austeridade. Vincent Peillon optou por dizer que a renda universal assenta numa premissa falsa, isto é, a de que a sociedade não cria empregos.

Sobre a lei do trabalho

Para Manuel Valls este é um debate que não interessa ao povo francês, uma vez que, na sua opinião, o diploma em causa é “um passo em frente”. Opinião diferente é a de Benoît Hamon, que diz querer “repensar a organização do trabalho e introduzir uma reforma há muito esperada: o reconhecimento dos transtornos mentais como doenças relacionadas com o trabalho, tal como o burn out”. Arnaud Montebourg também mostrou interesse em querer revogar a lei de trabalho e François de Rugy disse que teria votado a lei se houvesse uma votação na Assembleia.

Sobre o estado de emergência

O Governo de França pediu ao parlamento, em novembro do ano passado, um novo prolongamento do estado de emergência até às eleições presidenciais, em maio de 2017. Questionados sobre se se deveria estender o estado de emergência, os candidatos responderam de diferentes formas:

  • Benoît Hamon não acha que seja necessário;
  • Manuel Valls afirma que a guerra com o auto-proclamado Estado Islâmico vai durar, pelo que é da opinião que deverão ser dados mais recursos às forças de segurança francesas, exército incluído: “O estado de emergência será prorrogado pelo tempo necessário, desde que aprovado pelo Parlamento”;
  • Jean-Luc Bennhamias disse que “a forma como o estado de emergência foi introduzido mostra que somos uma democracia”;
  • François de Rugy propôs “criar um alto conselho de segurança interna” para essas questões.

Sobre o terrorismo

França tem sido um alvo recorrente do Estado Islâmico. Houve o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo em janeiro de 2015 e o ataque Bataclan, a 13 de novembro do mesmo ano. Sobre este tópico, Vincent Peillon disse que o país está de luto e assegurou que deve ser feito um esforço para reforçar as forças de segurança, o qual poderá passar pela criação de 5.000 postos de trabalho e pelo aumento do orçamento militar. “E podemos fazer isso como parte da Europa. Proponho a criação de um fundo de defesa europeia.”

François de Rugy, por sua vez, defendeu que, além das medidas de segurança, valores como liberdade e igualdade devem ser defendidos na escola e na política. Considerando ainda a ameaça jihadista e o que diz ser uma ameaça para toda a Europa — referindo-se ao “expansionismo agressivo de Vladimir Putin” –, falou de uma aliança militar com a Alemanha e a Polónia.

“Hoje a ameaça é no interior”, disse Arnaud Montebourg, trazendo à conversa a ideia de renegociar o acordo de Schengen. “Eu sou a favor do fortalecimento da polícia de fronteira”, argumentou, referindo que uma das suas propostas passa pela contratação de 12.000 polícias.

Sobre as desigualdades

Benoît Hamon falou na escola como a principal prioridade e afiançou que a chave na luta contra as desigualdades é a diversidade social, pelo que será necessário “repensar o mapa escolar”. Apesar de considerar que há múltiplas respostas para uma mesma pergunta, Manuel Valls também argumentou que, tanto a formação, como as escolas, são prioritárias. Sylvia Pinel também evidenciou a educação como forma de fortalecer a cidadania e falou ainda da necessidade de “reformar a política de atribuição de habitação social”, entre outras medidas.