O Sindicato da Construção de Portugal congratulou-se, esta sexta-feira, com a “abertura” manifestada pelas associações patronais para renegociar o Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) do setor, que diz estar “inadequado” face ao aumento do salário mínimo nacional (SMN).

Segundo explicou o presidente do sindicato após uma reunião com os presidentes das associações dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e das Empresas de Construção, Obras Públicas e Serviços (AECOPS), em causa está o facto de a subida do SMN para os 557 euros anular as diferenças salariais entre operários qualificados de 1.ª, de 2.ª e não qualificados, cujos ordenados passam a ficar todos equiparados nesse valor.

“Não é estimulante que um trabalhador operário qualificado ganhe tanto como aquele que não tem qualificação nenhuma e as associações foram sensíveis”, afirmou Albano Ribeiro, admitindo que se tal não acontecesse haveria “greve empresa a empresa” ou “no setor em geral”.

Para o dirigente sindical, não é “exigir muito que um operário qualificado da construção, pela importância que tem para o setor, a economia e o país, passe a ganhar 757 euros”, impondo-se uma revisão do CCT, enquanto “instrumento regulador” do setor, nesse sentido.

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“Mal estavam as empresas que não pudessem comportar um salário superior aos 557 euros para os operários qualificados, porque senão o setor ficaria despovoado de cerca de 20 mil trabalhadores que saíam do país, porque, por exemplo, na Eslovénia, o salário mínimo é quase 800 euros”, sustentou.

No passado dia 30 de dezembro, o presidente do sindicato tinha já alertado que o aumento do SMN provocará a “maior emigração dos trabalhadores do setor dos últimos anos” se não for assegurada a diferenciação salarial entre as várias categorias profissionais.

“Não tenho dúvidas de que, num curto espaço de tempo, entre 5.000 a 10.000 trabalhadores vão emigrar” porque o aumento do SMN “vai fazer com que um pintor ou um carpinteiro qualificado ganhem o mesmo que um operário não qualificado”, afirmou então à Lusa Albano Ribeiro.

Em declarações aos jornalistas no final da reunião desta sexta-feira, o presidente da AICCOPN não avançou valores salariais específicos, preferindo antes dizer que o aumento do SMN “é um desafio que se coloca às associações”.

“Este aumento do salário mínimo coloca ao setor um desafio de verificar o que é neste momento a nossa contratação coletiva e é uma oportunidade para fazê-lo de forma global”, afirmou Reis Campos, salientando a importância de debater o assunto “num quadro de globalidade em relação aos instrumentos de contratação coletiva”.

De acordo com o presidente do Sindicato da Construção, o contrato coletivo do setor “sempre teve a diferenciação entre o operário qualificado e o operário não qualificado, que era de 60 euros, e ainda mais em relação ao servente”, pelo que, “em diálogo entre os parceiros sociais, é preciso fazer a revisão do CCT para manter uma diferenciação entre os trabalhadores e dignificar e valorizar a profissão”.

Fazendo um balanço de 2016 para o setor da construção, o presidente da AICCOPN disse partilhar com o sindicato a perceção que o ano “não correspondeu às expectativas”, já que “continuou a não haver investimento público compatível com as necessidades do setor, que há 13 anos consecutivos tem quebra no seu investimento”.

“Tivemos um ano em que o imobiliário, fruto das condições que Portugal oferece, foi atrativo e melhor do que 2015, mas em termos de investimento público, de obras públicas e das condições em que as empresas exercem a sua atividade, não”, considerou.

Para este ano Reis Campos aponta como prioridades o combate à clandestinidade e à concorrência desleal no setor, onde muitas empresas operam à margem das regras, e a revisão do Código dos Contratos Públicos, “que tem de ser corrigido”.

“Queremos que 2017 marque a viragem e o arranque do setor, mas para isso tem que ser um ano que tem que ser concretizado no primeiro trimestre, sob pena de ser mais um ano igual aos anteriores”, concluiu.