O Porsche 959 é um dos exemplos máximos de uma era gloriosa da indústria automóvel: a do advento dos chamados supercarros, em que cada novo modelo apostava em superar os seus rivais em desempenho e prestações de tirar a respiração. Nasceu como modelo destinado ao Grupo B do Mundial de Ralis, para cuja homologação estava obrigado a ser produzido em, pelo menos, 200 unidades destinadas a circular na via pública. Assim o definiam os regulamentos da época, que a Porsche cumpriu, pese embora o modelo nunca tenha chegado a participar nesse campeonato.

Lançado em 1986, o 959 foi, porventura, o automóvel tecnologicamente mais evoluído do seu tempo, um dos primeiros do género a contar com tracção integral permanente (que muito útil lhe foi para participar, e vencer, o rali Paris-Dakar), abrindo caminho para a introdução desta solução técnica no 911 Carrera 4. Um sistema denominado PSK, o mais sofisticado do género da época para automóveis de produção em série, capaz de assegurar a repartição variável do binário entre os dois eixos.

Já o motor de seis cilindros opostos, com 2,9 litros, provinha directamente do 935 de competição (o famoso Moby Dick) e contava com dois turbocompressores montados em sequência, e não um por bancada de cilindros, como era comum naquela época. Oferecia, originalmente, 450 cv, disponibilizava 515 cv na versão Sport (destinada à competição e cerca de 100 kg mais leve), com a Porsche a propor, posteriormente, uma evolução que permitia que a potência chegasse aos 530 cv.

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Entre os muitos atributos técnicos do 959, é forçoso destacar a suspensão com amortecimento activo e regulação automática da altura ao solo, as jantes em magnésio ocas já dotadas de um sistema de monitorização da pressão dos pneus, a caixa de seis velocidades ou a aerodinâmica extremamente evoluída. Com 1.450 kg peso, oferecia prestações que a ninguém ficava indiferente: qualquer uma das suas variantes superava os 300 km/h e cumpria os 0-100 km/h em menos de 4,0 segundos!

Nos dois anos em que foi produzido, nas instalações da Baur, foram fabricados 292 exemplares do 959 destinados a clientes (a que há que adicionar 37 protótipos, oito unidades de pré-produção e mais oito unidades construídas, em 1992/1993, a partir das peças ainda existentes nas instalações da Porsche). Também por isso, este é um automóvel que rapidamente se tornou num veículo de culto, que embeleza as garagens dos mais felizardos coleccionadores e raramente muda de mãos.

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Mas as oportunidades, por vezes, aparecem. E a próxima já tem data marcada: 8 de Fevereiro, em Paris, num leilão realizado pela RM Sotheby’s. À praça vai um dos 29 exemplares construídos da versão Sport do 959, anunciado como estando em condições absolutamente originais, exactamente com a mesma pintura com que saiu de fábrica.

Este 959 Sport já teve três proprietários. Procura agora o seu quarto dono, assim este esteja disposto a pagar os 1,5 a 2,0 milhões de euros que a leiloeira prevê que venha a ser o seu valor final de licitação. Uma verba ao alcance de muito poucos. Mas, tendo em conta todo o seu historial, e o estatuto de raridade que encerra, este até pode ser um bom investimento, atendendo ao potencial de valorização que lhe está associado.