Joana e Tiago conseguiram fazer os 19 mil quilómetros entre Painho, perto das Caldas da Rainha e Díli, em Timor-Leste, sem usar um único avião, viajando quase sempre à boleia e a gastarem menos de sete euros por dia para todas as suas despesas.

E se não fosse por algum receio de andar no mar – que Joana descobriu que tinha enquanto o casal saltitava de ilha em ilha, de ferry, entre Singapura, a Indonésia e Timor-Leste – no dia 22 de janeiro não teriam sequer que apanhar o primeiro voo, neste caso entre Díli e Darwin, no Norte da Austrália.

Esta viagem, que já os levou por 28 países e vai incluir 20 outros, sendo que além da ligação a Darwin só estão previstos mais 3 voos: entre a Austrália e a Nova Zelândia, daquele país para a América Latina e, finalmente, entre o Canadá e Lisboa, em agosto.

Quando partiram de Portugal, no início de março do ano passado, tinham como único objetivo percorrer o planeta unicamente à boleia, de mochila, sem pagar por dormidas ou restaurantes e com um mínimo de gastos possíveis.

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“Fizemos as contas e nos primeiros 10 meses de viagem gastámos 1.975 euros. Ou mais ou menos 7,5 euros por dia. Queríamos provar que não é preciso ser-se rico para fazer a volta ao mundo”, conta Tiago Fidalgo à Lusa em Díli.

“Tínhamos um plafond e os nossos gastos são todos públicos. Mostramos que se pode dar a volta ao mundo sem gastar mais de 10 euros por dia. Há dias em que não gastamos nada e outros em que gastamos muito, como 70 euros num dentista”, sublinha Joana Oliveira.

Dormem em casas particulares – contactos que obtêm através de aplicações de partilha de espaços para dormir, como o couchsurfing – comem em casa de quem os acolhe e aproveitam os mercados ou descontos nos supermercados.

Com mais tempo e menos receios de Joana o casal poderia ter feito toda a viagem sem usar uma única vez um avião, mas viagens longas no mar – fizeram deslocações em ferry, entre ilhas de 12 ou 16 horas – é algo que Joana prefere não fazer.

18 meses para percorrer o planeta

Joana, 27 anos, e Tiago, 26, escolheram a aventura como uma prolongada lua-de-mel (casaram-se em setembro de 2015): 18 meses para percorrer o planeta antes de embarcar noutras aventuras, como filhos.

Eram praticamente vizinhos, andaram na mesma escola, na mesma faculdade, a de Motricidade Humana, mas só se conheceram no Brasil onde ambos participavam num programa de intercâmbio da sua faculdade, em 2011.

Da geração dos recibos verdes – ambos estavam em trabalhos temporários ou precários – o casal optou por largar o que estava a fazer e embarcar numa aventura que, admite, os marcará para sempre.

Tiago, que completou o curso de Ciências do Desporto e depois um Mestrado em Educação Física), e Joana, que é licenciada em reabilitação psicomotora, admitem que no início alguns familiares e amigos os criticaram pela decisão de partir.

“A maior parte da nossa geração não está a trabalhar e ainda houve quem nos recriminasse por largar o trabalho. Mas a verdade é que estávamos os dois a recibos verdes e queríamos fazer esta aventura antes de ter filhos”, explica Joana.

Sempre à boleia, o casal atravessou a Europa, passou pela Ásia Central, atravessou a China – só numa deslocação à boleia neste país fizeram mais de 800 quilómetros – e depois viajou até à Singapura, onde teve que recorrer ao primeiro ferry, para a Indonésia.

“Até agora nunca pagámos para dormir. Temos uma tenda e mesmo em casos em que não temos casa onde ficar as pessoas deixam-nos montar as tendas. Noutras vezes ficamos ao lado de um posto da polícia ou de uma bomba de gasolina, especialmente se chegamos tarde”, conta Tiago.

E apesar de tanta gente e tantas viagens nunca viveram situações de perigo, tendo receio “um par de vezes” quando não confiaram muito nos condutores da boleia, ainda que tudo tenha corrido bem.

O futuro é, para já, completamente em aberto, ainda que tenham ficado “uns pozinhos” de possibilidade, como trabalhar na Ásia Central, a zona de que mais gostaram. Os favoritos acabam por ser países onde praticamente não há turistas, onde apesar da pobreza e do subdesenvolvimento, as pessoas os saudavam por serem dos únicos que ali passavam.

De muitos deles levam souvenirs, mas sem nunca comprarem nada, e que vão enviando, pontualmente, para Portugal. “Deram-nos todo tipo de coisas, toalhas, lençóis, chapéus, porta-chaves, hijabs, tudo. As pessoas recebem-nos e ainda ficam agradecidas por nos receber, por termos passado pelo seu caminho. Quando quem ficará gratos para sempre somos nós”, confessa Joana.