No dia em que Donald Trump ganhou a eleição para a presidência norte-americana, Hassan Jamil tomou uma decisão: o seu filho, quando nascesse, ia chamar-se Trump.

Hassan é curdo e luta aos lado dos peshmerga contra o Estado Islâmico, mas também a favor da criação de um Estado independente para o seu povo – um sonho que Trump pode ajudar a tornar realidade, acredita Hassan. Apesar de não falar inglês, o curdo passou a campanha colado à televisão, absorto pela presença altiva daquele homem, pelo magnetismo dos seus discursos e pelo seu cabelo lindíssimo, conta o Washington Post.

Não entender a língua de Trump não impediu a Hassan sentir-se ligado ao que diz ser o poder que emana do novo presidente dos Estados Unidos. “O que eu mais admiro em Donald Trump é a sua auto-estima e o facto de ter tanto sucesso nos negócios. Ele tornou-se um líder porque é um homem confiante, caso não fosse não se teria tornado presidente”. A mulher foi apanhada de surpresa pela decisão, mas não se opôs ao pedido do marido. No passado dia 23 de novembro nasceu, em Chrra, no Norte do Iraque, Trump Hassan Jamil – ou “little Trump” como o pai lhe chama.

Talvez as pessoas que passaram o dia a seguir à tomada de posse em manifestações contra Trump por todo o mundo, ou os seus oponentes democratas discordem destes atributos mas o novo presidente tem uma legião de fãs no Curdistão onde, diz o jornal norte-americano, as pessoas respeitam a autoridade, as manifestações apaixonadas de lealdade a uma causa, e o jeito para os negócios.

Alguns peshmerga, e entre eles Hassam, acreditam que a lealdade demonstrada pelos curdos na luta contra o auto-proclamado Estado Islâmico pode ser compensada pela nova Administração norte-americana com o apoio à sua luta pela criação de um Estado independente. Expetativas irreais? Talvez. Mas Donald Trump já disse ser “um grande fã das forças curdas”, o que levou alguns analistas a questionarem-se sobre se isto não seria uma expressão de simpatia pelos objetivos políticos dos curdos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Walid Phares, comentador no canal de televisão norte-americano Fox News e conselheiro de Donald Trump em matéria de política internacional, disse que Donald Trump “reconhece e valoriza o papel das forças curdas na luta contra os avanços do Estado Islâmico”. A pergunta agora, segundo Phares, é: “Qual será a posição dos Estados Unidos futuramente, em relação aos curdos, quando o Estado Islâmico]começar a retroceder?” E a resposta? “Isso será determinado pela facilidade com que os curdos se vierem a tornar aliados dos Estados Unidos. Depois disso enviaríamos os nossos diplomatas para se encontrarem com representantes curdos e daí veríamos como fortalecer a nossa amizade”.

“A nossa esperança é que Trump e a nova Administração sejam suficientemente corajosos para ajudarem os curdos no caminho pela independência, que é um direito básico do povo curdo”, disse ao Washington Post Shahab Goran, líder do Partido Democrático do Curdistão na província Dahuk, acrescentando que “o Curdistão pode torna-se outro Israel para os Estados Unidos na região”.

Mas há mais demonstrações de admiração a Donald Trump um pouco por todo a região. Há cartazes nas ruas e agora, em Dahuk, que fica a cerca de uma hora de carro de Mosul, a frente mais ativa da batalha contra o Estado Islâmico, um restaurante como o nome “Trump Fish”. O dono, Nedyar Zawity disse à agência Reuters que “Trump é adorado no Curdistão”.

“Trump disse que não gosta de muçulmanos extremistas, o que não quer dizer que desgoste de todos os muçulmanos. Somos curdos e muçulmanos mas lutamos contra o Estado Islâmico porque eles são extremistas”, disse ainda Hassan que não se sente melindrado pelas promessas de Trump em rever as políticas de imigração de países que sejam “focos de terror”, ou em criar listas de muçulmanos no país.

Este pai espera que um dia o seu filho possa ser um homem tão confiante como Trump mas, por agora, a única coisa em que são semelhantes é no tom de pele. “É assim um laranja-avermelhado”, disse Hassan.