Na avenida da República e no Saldanha, onde passam os carros e onde nos últimos meses circularam menos automóveis por causa das obras que provocaram congestionamentos ao tráfego e incómodos aos lisboetas, este domingo jogava-se xadrez, em enormes tabuleiros com peças gigantes. Saltavam bolas de corfebol, passavam skaters, patinadores e ciclistas, passeavam palhaços e performers de andas, grupos atuavam num palco, era uma festa. Sem carros. A festa da inauguração da primeira grande obra pré-autárquicas de Fernando Medina, o presidente da câmara que sucedeu a António Costa e que será o candidato do PS nas eleições do próximo outono.

A obra, no valor de 9,4 milhões de euros, previa um prémio de um por cento ao empreiteiro, no cadernos de encargos inicial, a que o Observador teve acesso (ver artigo sobre prémios nas obras em Lisboa). A câmara, no entanto, sempre recusou que esta empreitada previsse a existência de prémio para o caso de as obras acabarem mais cedo. A meio da inauguração deste domingo, Fernando Medina explicou ao Observador que, inicialmente, o caderno de encargos previa esse prémio, mas que essa cláusula caiu entretanto. “Depois da aprovação em reunião de câmara, o caderno de encargos sofreu alterações, após a fase em que se detetaram erros e omissões e em que houve a fase de perguntas dos concorrentes. A aprovação final de todas as peças do caderno de encargos foi feita em reunião de câmara, quando foi aprovada a adjudicação”, afirmou o presidente da câmara ao Observador. “Pode haver alterações até à adjudicação”.

“Eu sabia perfeitamente que esta obra não tinha prémio”, por a obra ser acabada antes do tempo, explica o autarca, justificando assim a sua opção: “Entendo que os prémios são uma boa prática de gestão, associadas às penalizações por incumprimento”, disse Fernando Medina ao Observador.

Fernando Medina disse aos jornalistas que este tipo de intervenção na cidade — alargamento dos passeios, ciclovias, etc. — “beneficia o comércio local”, e da exemplo de outras intervenções que mudaram o perfil de uso dos espaços em Lisboa, como o Príncipe Real. “Lisboa é hoje uma cidade de bairros”, diz o autarca, que quer mudar o perfil de certas zonas para não servirem apenas de travessia. “A partir deste momento, este espaço é das pessoas. Queremos deixar para trás a cidade construída só para ser atravessada por automóveis”.

Questionado sobre se a festa deste domingo marcava o arranque da campanha eleitoral, Medina respondeu que a inauguração do chamado Eixo Central “marca a finalização de uma obra que devolve o espaço às pessoas. Foi uma obra exigente, que se prolongou no tempo, mas acabou a horas, dentro do prazo e do orçamento”, garantiu o autarca.

O socialista natural do Porto, ainda havia de reagir ao apoio anunciado por António Bagão Félix, próximo do CDS e que foi ministro dos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes — que tem mais significado político até por Assunção Cristas ser a concorrente. “Fiquei muito satisfeito. Bagão Félix é uma pessoa com grande presença na vida pública e política. Não pertencemos ao mesmo quadrante, mas é o reconhecimento do trabalho que tem vindo a ser feito”, concluiu Fernando Medina.

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