Há, pelo menos, 38 mil veículos que desapareceram das estatísticas em Portugal, números que na Europa podem chegar a 4,6 milhões anualmente, o que alarmou Bruxelas, que está a estudar a situação.

O ‘mistério’ dos desaparecimentos foi explicado à agência Lusa pelo diretor geral da Valorcar, Ricardo Furtado, ao referir que um carro que entra com o registo de matrícula no sistema só deve sair com um certificado de destruição.

Mas há ‘buracos’ nas estatísticas, como mostram os últimos dados do Instituto de Mobilidade e Transportes (IMT) sobre 2015. “Cerca de 17% dos veículos, ou seja 38 mil veículos, têm a matrícula cancelada, sem a emissão do certificado de destruição”, disse o dirigente, citando números do IMT.

Ricardo Furtado sublinhou a frase “pelo menos” porque “não se sabe bem ao certo qual é o total” de viaturas que devia receber a ‘certidão de óbito’ de um centro de abate certificado, como prevê uma diretiva europeia de 2000.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Antes das conclusões que devem ser divulgadas em meados do ano, os resultados preliminares do estudo da Comissão Europeia indicaram, recentemente, como causas prováveis para esta situação a falta de controlo a nível dos serviços nacionais de registo, a exportação sem um mecanismo de diferenciação entre veículos usados e veículos em fim de vida, bem como a diminuta capacidade de inspeção sobre o setor de desmantelamento.

Depois do diagnóstico feito e soluções apontadas, o dirigente da Valorcar acredita que se possa mudar a “diretiva dos veículos em fim de vida, mas também as diretivas que regulam os registos e as matrículas ao nível da União Europeia”.

Assim, a entrega do certificado de destruição passado pelo centro de abate para o cancelamento da matrícula “deve ser a regra e não a exceção, como se passa atualmente”, acautelando, porém, exceções como desaparecimentos de carros, refere.

Como entidade licenciada para gerir a rede de 99 centros de abate em Portugal, a Valorcar tem participado no estudo do executivo comunitário “espelhando a realidade nacional, avaliando as causas do problema e também contribuindo para a definição de uma solução deste problema”.

De forma preliminar, a Comissão Europeia elencou como caminhos possíveis a harmonização dos procedimentos de cancelamento de matrículas, nomeadamente a emissão eletrónica e centralizada dos certificados de destruição, a criação de restrições a exportações de veículos em fim de vida e o reforço do controlo sobre a proveniência de peças usadas.

Em Portugal, a Valorcar diz que “esta situação tem prejudicado largamente a indústria de reciclagem nacional”, com os operadores certificados a verem que “os veículos em fim de vida acabam por ser encaminhados para outros destinos menos adequados porque não há um controlo adequado por parte das autoridades a nível do cancelamento da matrícula e do registo”.