O Presidente da República disse este domingo, em entrevista à SIC, que “até setembro de 2020” tomará a decisão sobre se será candidato a um segundo mandato em Belém. No dia em que se completou um ano do fim da campanha das Presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa exigiu ao Governo que o país crescesse mais, pediu à oposição que fosse alternativa e elogiou a descida da TSU.

Numa entrevista concedida no Palácio de Belém, Marcelo confessou que foi “daqueles que se bateram para que fosse conseguido um acordo de concertação social”, numa altura em que o Governo se preparava para uma decisão “unilateral”. O chefe de Estado defendeu que devia haver um acordo “até mais amplo” e de médio prazo.

Marcelo Rebelo de Sousa assumiu que é favorável à descida da Taxa Social Única, já que a “TSU seria um sinal para o crescimento”, uma das exigências presidenciais para 2017. Não deixou também de fazer avisos ao governo pedindo um “crescimento muito maior”. E lembrou que “maior não é 1,3 ou 1,4%” e que, por isso, “é preciso mais investimento e mais exportações”. Ainda assim, recusou sempre ser pessimista. Durante a entrevista chegou a admitir que não acreditava que o Governo cumprisse as metas do défice e conseguisse 2,3% de défice em 2016: “Contra mim próprio, porque não acreditava que ficasse abaixo dos 2,5%”.

Marcelo Rebelo de Sousa não quis comentar a relação com o líder da oposição. O Presidente admite que “o ideal é que o Governo durasse uma legislatura”, mas que é “fundamental ter uma oposição muito forte, que seja alternativa”. Isto porque, explica Marcelo, “é sempre preferível ter dois termos de alternativa” já que para um Presidente “se um deles não correr bem” não é bom “não ter um termo alternativo.” Acrescentou ainda que o ideal é que “também as lideranças da oposição tivessem a duração de uma legislatura”, sem concretizar se Passos é essa liderança. Sobre se a decisão de chumbar a TSU era sinal de fraqueza, Marcelo foi claro: “Não comento. Não compete ao Presidente dizer se fez bem ao mal.”

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O Presidente da República elogia a estabilidade governativa e lembra que, quando entrou para Belém, a desconfiança era grande interna e externamente: “Quando cheguei, todos os dias me perguntavam quando dissolvia o Parlamento, se os bolcheviques já tomaram conta do Palácio de Inverno.” Foi preciso, então, falar com investidores e credibilizar a imagem do país. Hoje as coisas mudaram, o que segundo Marcelo é “mérito também do Governo, mas com o apoio do Presidente, modestamente.”

Sobre o Estado da banca, Marcelo elogiou a evolução no BPI e no BCP. Quanto à Caixa Geral de Depósitos, lembrou que o banco público tem a “recapitalização em curso”. Garante ainda que não foi considerada qualquer “ajuda de Estado. Era impensável. Foi ultrapassado. Para mim e para o primeiro-ministro não houve dúvida.”

Sobre o Novo Banco, Marcelo diz que “não se pode partir, não faz sentido”. O Presidente da República pede uma solução que não “perturbe o esforço dos portugueses”, que seja “aceite pelo BCE” e que “deve sacrificar o menos possível os outros bancos.” O chefe de Estado avisa que “há vários caminhos possíveis”, mas nenhum deles “pode ir contra estas linhas definidas.”

Marcelo Rebelo de Sousa está assim de volta à televisão ao domingo à noite quando se completa quase um ano das eleições Presidenciais, que se realizaram a 24 de janeiro de 2016. Marcelo tem colecionado elevados níveis de popularidade, assumindo-se como um chefe de Estado “popular”, mas não “populista”. Há precisamente um ano, a uma hora e meia do início do dia de reflexão, o então candidato terminava a campanha em Celorico de Basto, terra da “avó Joaquina”.

Há um ano, o Presidente prometia gerir os silêncios, dizendo que ia “ter de ser muitas vezes discreto para poder ser eficaz, renunciando a intervenções públicas que sejam mais fatores de perturbação do que de acalmia.” Acabou por ser interventivo. Nessa última intervenção de campanha, lembrava como tinha uma máquina reduzida: “Começou com uma pessoa, depois duas, depois três, até chegar aos dois carros com que percorremos o país”. Dizia igualmente, que foi uma campanha sem apoio de partidos, o que um ano depois se comprova que não seria bem assim.