Donald Trump não vai tornar públicas as suas declarações de rendimentos depois de meses a evitar fazê-lo escudando-se numa alegada auditoria de que estava a ser alvo pelo fisco norte-americano. Mas a Wikileaks já fez saber que vai atrás destas declarações para as dar a conhecer ao mundo.

Trump será o primeiro Presidente desde Richard Nixon a não publicar declarações de impostos. Foi um dos temas que mais agitou a campanha do lado do candidato republicano. O agora Presidente dos Estados Unidos recusou-se a divulgar as suas declarações de rendimentos, dizendo que o IRS (o fisco norte-americano) estava a fiscalizar os impostos que tinha pago e que por isso não os podia tornar públicos.

Este argumento foi desafiado publicamente desde o início por vários especialistas, e outros bilionários, que argumentaram que as declarações podiam ser divulgadas e que a fiscalização não obrigava a qualquer sigilo.

A mudança de discurso chegou já na parte final da campanha e, em especial, nos primeiros dias depois de ser eleito. Donald Trump começou a mudar a linha dizendo que o eleitorado norte-americano tinha votado nele de qualquer forma, mesmo sem saberem quanto pagava de impostos, por isso não estavam interessados em saber quanto é que o novo Presidente tinha pago ao fisco.

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A confirmação de que esses números não vão conhecer a luz do dia chegou este domingo pela mão de Kellyanne Conway, a sua gestora de campanha e agora conselheira da Casa Branca, que disse claramente que esses dados não vão ser tornados públicos. “A resposta da Casa Branca é que [Trump] não vai tornar públicas as suas declarações de impostos”, disse à televisão norte-americana ABC, argumentando que essa linha foi defendida durante toda a campanha.

Quem não gostou foi a Wikileaks. A organização promotora da transparência e que foi responsável pela divulgação de muitos ficheiros confidenciais durante a campanha, boa parte deles negativos para a campanha de Hillary Clinton – como os seus emails e os do seu gestor de campanha John Podesta – já fez saber que vai fazer valer a promessa de Donald Trump e pediu publicamente para que alguém lhe entregue estas declarações para que a organização as torne públicas.

“A quebra da promessa por Trump da divulgação das suas declarações de rendimentos é ainda mais injustificado que Clinton esconder as transcrições [dos discursos pagos pela] Goldman Sachs”, disse o grupo este domingo.O Wikileaks pediu então para que alguém que tenha acesso a estes documentos os possa enviar para a organização, para que ela os venha a tornar públicos.

Donald Trump tinha garantido no Twitter, um dos seus meios favoritos para comunicar as suas decisões e estados de espírito, que iria divulgar os dados assim que a fiscalização estivesse terminada. “Assim que a auditoria estiver terminada tornarei públicas as minhas declarações de rendimentos”, disse.

A declaração de rendimentos de Donald Trump permite conhecer com melhor exatidão quais são os interesses financeiros do Presidente, onde estarão os potenciais conflitos de interesses de Trump, seja dentro ou fora de portas, ou com que bancos é que lhe emprestam dinheiro, um tema especialmente importante considerando a elevada dívida do império de Trump.

Conhecidos os ativos e os rendimentos de Donald Trump, abrem-se outras duas portas, nenhuma delas boas para Donald Trump. Em primeiro lugar, há uma série de processos contra Donald Trump pendentes interpostos por organizações liberais que consideram que Donald Trump está em violação da Constituição na chamada emoluments clause, que impede que qualquer pessoas eleita para um cargo público não pode receber prendas ou rendimentos de outros países ou pessoas ligadas a regimes estrangeiros.

Uma segunda, que Donald Trump se preocupa mais, é a do seu ego. Ao longo da sua vida há poucos temas têm levado Donald Trump a agir legalmente contra a imprensa do que as estimativas da sua fortuna feitas abaixo daquilo que Donald Trump considera ser o adequado. Este é um dos temas frequentemente mencionado em várias das biografias do agora Presidente dos EUA, que faz a sua própria avaliação de quanto vale a marca Trump.