Golo, balde, água, fria, trave, poste, fora. É o Benfica em código morse na ½ final da Taça da Liga, perdida sem honra nem glória para o Moreirense. Do golo de Salvio aos 6′ até ao descalabro de sofrer três golos em 25 minutos (repete-se o cenário de há duas semanas, vs. Boavista) é um passo tão inacreditável como improvável. Mérito indiscutível para o Moreirense. Com muita sorte à mistura (uma bola de Jonas acerta na barra aos 82′, uma outra de Eliseu no poste aos 86′), sim senhor, e também muita, imensa determinação. É raro encontrar uma equipa a perder 1-0 para o Benfica e dar a volta toma lá-dá cá aquela palha num piscar de olhos. Honra lhe seja feita, o Moreirense capricha com um futebol de qualidade assente na velocidade de Podence, Boateng mais Dramé e baralham o Benfica sem dó nem piedade. É a primeira derrota do Benfica na Taça da Liga desde 31 Outubro 2007 (Bonfim, 2-1 para o Vitória) e o adeus ao tetra.

Rui Vitória começa com Eliseu, Carrillo e Rafa no onze. Augusto Inácio mantém só cinco titulares assumidos, de olho no próximo jogo do campeonato, vs. Feirense. O começo é animador. Sai o Moreirense com a bola e Salvio é carregado em falta por Jander aos seis segundos. S-e-i-s. Isto promete. Seis, outra vez. Agora, minutos. Salvio faz um túnel a si mesmo, dribla um moreirense, foge com a bola ainda no seu meio-campo e lateraliza para Pizzi. Daí para Eliseu. O lateral vê bem a jogada e cruza largo para a entrada de Salvio. No coração da área, o remate de primeira do argentino é certeiro, sem hipótese para Makaridze. Está dado o mote para mais uma noite tranquila do Benfica? Até ao final da primeira parte, o Moreirense joga longe da baliza de Ederson e é Makaridze quem evita o 2-0, por Jonas (35′) e Salvio (38′).

A perder 1-0 ao intervalo, Inácio lança experiência (Fernando Alexandre) e velocidade (Dramé). É o fim da picada. Ainda o relógio não dobra o primeiro minuto e já Dramé está a festejar junto à bandeirola de canto. O serviço é de Geraldes e o suplente desmarca-se nas costas da defesa, antes de passar por Ederson e rematar para o poste mais longínquo. Lisandro vai à bola mais cedo que o previsto e esbarra no poste, André Almeida reage tarde demais e não evita o empate.

É estranho, o Benfica acusa o golo. E de que maneira. Lisandro joga a coxear (seria substituído por Lindelof) e Ederson falha uma reposição de bola. Ao mesmo tempo, o Moreirense agiganta-se. É o vira minhoto. Ai é, é. Aos 54′, livre na esquerda. Cauê está solto na direita e remata para palmada de Ederson na bola. A recarga de Boateng é gloriosa. O Moreirense dá a volta e sonha com uma final minhota, vs. Braga, no domingo. O céu é o limite. E o contrário é o quê? É o Benfica. Que pobreza. Nem uma jogada de perigo. No outro lado, Diego Ivo atira por cima desde a marca de penálti (63′) e Dramé obriga Ederson a defesa apertada (65′) no enésimo contra-ataque.

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Atenção, livre para o Benfica. Na marcação, Eliseu atira forte e à figura de Makaridze. O geórgio agarra e atira lá para a frente. No meio-campo, Jardel recolhe e tenta sair a jogar. Erro. Podence corta-lhe o intento pela raíz e lança Boateng. O jovem mete a quinta e escapa-se a todos os benfiquistas. À saída de Ederson, é só escolher o lado. Incrível, 3-1. Histórico, 3-1. Inácio, 3-1. Há exactos 17 anos, num 26 Janeiro 2000, o treinador treina uma equipa de verde e elimina o Benfica da Taça de Portugal pelo mesmo resultado. Naquele tempo, o onze tem mais peso: Schmeichel, César Prates, André Cruz, Beto, Rui Jorge, Vidigal, Delfim, Mpenza, De Franceschi, Barbosa e Acosta. Seria este último a abrir e fechar o marcador. Pelo meio, 1-1 de Uribe e 2-1 de André Cruz. Agora, mais do mesmo. Em campo neutro e, vá, ao serviço do Moreirense. Mestre da táctica. Um mês depois de eliminar o Porto da Taça da Liga (1-0 em casa), o Moreirense de Inácio deslumbra o país com uma cambalhota bem executada sobre o campeão em título.

Calma, muita calma. Ainda faltam 29 minutos até aos 90′. Como Tiago Martins dá sete minutos de descontos, ainda falta mais de meia-hora. Se o Moreirense marcar três ao Benfica nesse período, o contrário é também uma realidade. Só que não, Makaridze é pau para toda a obra (Jonas 75′, Pizzi 81′, Jonas 82′) com a tal preciosa ajuda dos postes. Curiosamente, o Moreirense só dá sinais de matreirice nos últimos cinco minutos, quando encosta o Benfica à sua área e de lá não sai. Só até ao apito de Tiago Martins. Golo, balde, água, fria, trave, poste, fora. Pela terceira vez em oito edições (2008, 2013 e 2017), o Benfica está fora da final da Taça da Liga. Que venha o dérbi minhoto para animar o Algarve.

Estádio Algarve, em Faro/Loulé
Árbitro: Tiago Martins
MOREIRENSE: Makaridze; Tiago Almeida, Diego Ivo, Diego Galo e Jander (Nildo Petrolina, 60′); Tiago Morgado (Fernando Alexandre, 46′), Cauê e Geraldes; Podence, Boateng e Ramírez (Dramé, 46′)
Treinador: Augusto Inácio (português)
BENFICA: Ederson; André Almeida, Lisandro (Lindelof, 53′), Jardel e Eliseu; Samaris (Zivkovic, 79′), Pizzi, Carrillo (Jiménez, 69′) e Salvio; Rafa e Jonas
Treinador: Rui Vitória (português)
Marcadores: 0-1, Salvio (6′); 1-1, Dramé (46′); 2-1, Boateng (54′); 3-1, Boateng (71′)