O presidente da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, disse, à Lusa, em Paris, que os “angolanos não vão aceitar nenhuma fraude” em referência às eleições gerais previstas para agosto. “Se as eleições não forem transparentes, forem fraudulentas outra vez, eu estou a dizer a todo o mundo que é preciso fazer atenção porque os angolanos estão completamente fatigados do que se passa hoje, estão cansados do regime que governa o país hoje e não vão aceitar mais nenhuma fraude assim”, alertou o líder da UNITA, em entrevista à Lusa.

Isaías Samakuva sublinhou que “esta é uma mensagem” que quer transmitir “a todos aqueles que queiram manter Angola com a estabilidade que tem hoje”, sublinhando que a UNITA faz “tudo para que se consolide essa estabilidade” mas que pode “perder o controlo” que “ainda” exerce “sobre o povo angolano”.

O presidente da UNITA ressalvou, porém, que se a UNITA não vencer as eleições gerais e que se estas decorrerem “num processo transparente, livre”, vai ser reconhecida “a vontade do povo”, advertindo que “toda a gente tem de trabalhar agora no sentido de, pelo menos esta vez, Angola ter eleições credíveis, transparentes, livres e justas”.

Relativamente à não oficialização da saída da vida política de José Eduardo dos Santos, Isaías Samakuva reiterou à Lusa que se trata de “uma questão interna do MPLA” e que “esta indefinição tem algum impacto na vida nacional”, ainda que nunca tenha ficado “ciente que o anúncio [da retirada de José Eduardo dos Santos] fosse algo definitivo”.

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Questionado sobre se José Eduardo dos Santos seria um adversário mais difícil que o vice-presidente do MPLA, João Lourenço, – apontado por fontes do partido, na reunião do comité central do MPLA de 02 de dezembro, como o cabeça-de-lista às eleições – Isaías Samakuva disse pensar “o contrário”.

“Penso exatamente o contrário. Talvez a entrada de um novo ator, na verdade, pode ainda suscitar algum benefício da dúvida da parte dos eleitores, mas o candidato que já está lá, que os eleitores já conhecem, creio que este pode ser para nós um candidato preferível (…) Venha João Lourenço ou José Eduardo dos Santos, é o MPLA que estará a candidatar-se. É contra as políticas do MPLA que nós queremos apresentar as nossas propostas para retirar o país da crise em que se encontra”, afirmou.

O líder do maior partido da oposição angolana, que está em Paris desde domingo e até terça-feira, para encontros com a comunidade, políticos e empresários franceses, advertiu que Angola está “na situação de doente grave que precisa de uma ambulância”, nomeadamente nos setores da educação, saúde, habitação e emprego que aponta como prioritários se chegar ao poder.

Outro objetivo da UNITA é “restaurar rapidamente a economia”, denunciando que “a crise não resulta apenas da baixa de petróleo” mas também de uma “endemia da corrupção”, de uma “crise de má governação” e de uma “crise da perceção da responsabilidade do cidadão governante em relação à sua missão”. “Nós podemos restaurar rapidamente a economia. O governante tem de ser responsável, tem de prestar contas. Nós não vemos os nossos governantes a prestarem contas. De tal forma que ele é nomeado hoje e dois meses depois está riquíssimo, está um ‘ricalhão’ e ninguém lhe pergunta de onde é que tirou o dinheiro. Isso não pode acontecer mais no nosso país num governo da UNITA”, declarou o líder do partido desde 2003.

Isaías Samakuva mostrou-se ainda satisfeito com “o nível de adesão bastante aceitável” desde a segunda fase do recenseamento eleitoral, no início de janeiro, porque disse ver “os postos de registo cheios” e espera que “esta vontade de se registar corresponda à vontade de votar”. “É importante que, desta vez, no quadro deste processo que nós queremos que seja transparente, haja cadernos eleitorais (…) Nos processos anteriores, não houve cadernos eleitorais afixados. A lei prevê a afixação dos cadernos eleitorais, primeiro a existência e depois a sua afixação. E nós queremos que, desta vez, este passo seja cumprido também”, advertiu.

O líder da UNITA lamentou, também, que a diáspora angolana não possa votar, afirmando que, se a UNITA chegar ao poder, o voto dos cidadãos que vivem no estrangeiro “teria de ter lugar”.