Um grupo de deputados da ala direita do PS, em França, admitem apoiar outro candidato presidencial, na eleições no país, em vez do homem que no último domingo venceu as primárias do partido: Benoît Hamon. Nas últimas horas multiplicaram-se as declarações de socialistas no sentido de se afastarem do partido e até apoiarem outro candidato presidencial, o ex-ministro da economia e candidato independente Emmanuel Macron.

A ala direita do partido já se manifestou sobre o atual momento político do partido, que dizem ser agora liderado pela “esquerda radicalizada”. Numa carta pública, noticiada pelo Le Monde, os deputados Christophe Careshe e Gilles Savary escreveram em nome do grupo de reformadores do PS e anunciaram a intenção de não apoiar a candidatura de Hamon. “Somos socialistas que pretendem ficar. Mas depois de umas primárias que não resolveram nada, não podemos negar estar diante de um caso sem precedentes de consciência: como apoiar um projeto presidencial que é a antítese da ação parlamentar que temos tido e onde temos tido avanços?“.

Os deputados (apoiantes de Manuel Valls na corrida à liderança socialista) reivindicam “o direito de retirada da campanha presidencial por não estarem reunidas as condições” para o seu “apoio à candidatura de Benoît Hamon”. Na tomada de posição pública, os deputados socialistas dizem estar “conscientes da responsabilidade que pesa sobre as forças progressistas e recusam uma direita com o espírito de vingança aguçado” e também uma extrema direita “que nunca gostou de França: “Mas não pensamos que o futuro possa passar por esta aventura incerta”.

O texto — que já circulava entre deputados socialistas dias antes da segunda volta das primárias — não refere diretamente que candidato presidencial apoiam os deputados, mas entre os apoiantes de Valls já houve quem expressasse publicamente a intenção de passar para o lado de Macron, o ex-ministro da Economia que lidera o movimento independente “Em marcha”. Aliás, surgiram apoios de deputados socialistas logo na noite de domingo, como foi o caso de Alain Calmette. Uma posição prontamente partilhada por Christophe Caresche no seu Twitter.

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O secretário de Estado do Desenvolvimento e da Francofonia e próximo de Valls, Jean-Marie Le Guen, também veio dizer, numa entrevista ao Le Parisien, que “se pode ser socialista e apelar ao voto e Macron”. Le Guen acrescentou ainda que a candidatura de Hamon é “indiscutivelmente muito fraturante” e questiona: “Será que ele quer ser o candidato dos socialistas ou o da esquerda à esquerda do PS?”.

A ministra da Saúde francesa, Marisol Tourain, que nas primárias também não apoiou a candidatura de Hamon, sublinhou, na RTL, não se revê nas ideias do socialista que venceu o partido, ainda que faça um apelo à responsabilidade de Hamon. Uma posição que foi seguida no Governo francês, onde Michel Sapin, ministro da Economia, deu “três semanas, quinze dias” para que Hamon dê sinais de querer unir a esquerda e apelou à sua responsabilidade: “Não serve de nada prometer qualquer coisa se não somos capazes de a cumprir”.

Depois do encontro que teve com o candidato escolhido pelos socialistas, o primeiro-ministro Bernard Cazeneuve avisou que Hamon não vai conseguir unir a esquerda sem assumir a “herança dos cinco anos de François Hollande“. Hamon pertence à ala esquerda do partido e assumiu uma posição radicalmente contra as políticas assumidas pelo partido nos últimos anos, com um afastamento mais vincado nas questões económicas. Uma das propostas mais polémicas do programa de Hamon é o subsídio universal, que Valls e os seus apoiantes, durante a campanha das primárias, classificaram de uma “ilusão”, que temiam ter um impacto significativo nas contas públicas francesas.