A delegação francesa da UNESCO confirmou, esta quarta-feira, à Lusa que foi apresentada uma candidatura a Património Mundial da UNESCO de “locais funerários e memoriais da I Guerra Mundial (Frente Ocidental)”, na qual se inclui o cemitério militar português de Richebourg.

O cemitério português, no norte de França, com 1.831 campas de soldados lusos da I Guerra Mundial, estava, desde abril de 2014, na “lista indicativa” de França para futuras candidaturas a património da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Na “lista indicativa”, uma versão prévia à candidatura final, havia um conjunto de 80 locais referentes à Grande Guerra e o cemitério de Richebourg L’Avoué aparecia em sétimo lugar, assim como a Capela de Nossa Senhora de Fátima, em Lorgies, mesmo em frente do cemitério.

Em décimo lugar, aparecia a necrópole nacional de Notre-Dame-de-Lorette, um cemitério militar junto ao qual se encontra o Memorial Internacional de Notre-Dame-de-Lorette, uma escultura monumental em forma de círculo — “Anneau de la Mémoire” — onde estão inscritos os nomes de 579.606 soldados de 40 nacionalidades mortos na Grande Guerra, incluindo 2.266 nomes portugueses.

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A candidatura final, de acordo com o comunicado do ministério da Cultura, apresenta “139 locais” — 96 em França, 27 na Flandres e 16 na Valónia, na Bélgica, visto que se trata de uma candidatura conjunta franco-belga.

Além dos “locais funerários e memoriais da I Guerra Mundial (Frente Ocidental)”, a França apresentou outra candidatura a Património Mundial da UNESCO, intitulada “Nîmes, l’Antiquité au présent”.

A delegação francesa da UNESCO explicou à Lusa que, ainda que a candidatura tenha sido apresentada este ano, só vai ser avaliada no Comité do Património Mundial em julho de 2018.

O cemitério de Richebourg é um cemitério militar exclusivamente português, no qual, entre 1924 e 1938, se sepultaram 1.831 soldados, dos quais 238 são desconhecidos, provenientes de outros cemitérios franceses de Le Touret, Ambleteuse e Brest, de Tournai, na Bélgica, e também os corpos de prisioneiros de guerra mortos na Alemanha.

Como “justificação para o valor universal excecional”, a versão inicial do projeto — ainda disponível na página internet da UNESCO na secção das “listas indicativas” — explica que, com a Grande Guerra, “uma nova memória funerária exprime-se através de cemitérios constituídos por campas individuais que se repetem em grande número”, marcados pela “homogeneidade”, e através da “inscrição de nomes nos mausoléus e memoriais que responde à vontade de guardar a memória de combatentes cujos corpos não foram encontrados ou identificados”.

Estes elementos são representativos da enorme diversidade de nações e de povos que estiveram implicados neste conflito mundial, com uma dimensão nunca então alcançada. Eles compõem uma paisagem evocativa representativa da extensão geográfica da frente (mais de 700 km), dos grandes momentos da sua história e das suas evoluções ao longo da guerra”, descreve o documento.

“Todos estes elementos refletem, também, o caráter internacional do conflito, seja através de cemitérios explicitamente associados a um dos beligerantes ou ao homenagear soldados oriundos do mundo inteiro”, continua o documento, lembrando, ainda que “os memoriais são monumentos totalmente novos em relação a guerras anteriores”.

A recordar a presença portuguesa na Primeira Guerra Mundial em França há, ainda, o monumento de La Couture, do escultor português António Teixeira Lopes e inaugurado a 10 de novembro de 1928, e o cemitério militar britânico de Boulogne, onde há um talhão português com 44 campas.

O cemitério militar de Richebourg, a capela Nossa Senhora de Fátima e o monumento aos mortos de La Couture são palco, todos os anos, em abril, de uma cerimónia evocativa da Batalha de La Lys.

Os primeiros soldados do contingente que Portugal enviou para combater em França na I Guerra Mundial chegaram à Flandres faz quinta-feira 100 anos, numa participação sem brilho e que culminou no desastre da Batalha de La Lys.

A chegada dos militares portugueses a França, em janeiro de 1917, marca o início do grande esforço militar português durante a I Guerra Mundial.