A sessão experimental do Cinema Trindade aconteceu há exatamente uma semana, com convidados ligados ao meio do cinema para que pudessem dar “uma opinião avalizada”. Equipa e audiência notaram um problema na projeção, que já está resolvido. É hora de se avançar para a data oficial de abertura, essa sim, “com pompa e circunstância”. “Será no domingo, às 19h00”, explica ao Observador Américo Santos, da Nitrato Filmes. Os bilhetes custam seis euros e começam a ser vendidos na sexta-feira.

Na noite inaugural, a tela vai passar o filme “Ornamento & Crime“, de Rodrigo Areias. Um filme policial sobre crime, extorsão e corrupção, inspirado na estética noir. A escolha “representa um sinal de colaboração da Nitrato com a [produtora] Bando à Parte, porque temo-nos ajudado mutuamente. O Rodrigo tem uma ligação muito forte ao Porto e queremos abrir esta sala com algo que esteja ligado à cidade”, explica Américo Santos. Para trás fica a intenção de abrir com o filme “Porto” (inicialmente titulado “Porto, Mon Amour”), realizado pelo brasileiro Gabe Klinger e filmado na Invicta.

Feita a festa, o primeiro momento de programação do renovado Cinema Trindade será com o IndieJúnior — 1.º Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil do Porto, que vai decorrer entre 5 e 12 de fevereiro. No dia 16 de fevereiro é a valer: o Trindade vai arrancar em pleno com as exibições diárias de cinema, 17 anos depois. A programação regular será anunciada na inauguração, assim como a presença de um realizador, cujo nome o responsável não quer revelar.

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A partir de 16 de fevereiro, o Trindade arranca com as exibições diárias. Américo Santos quer ter 10 sessões por dia. © Filipa Brito / CMP

Quando as notícias de que o Cinema Trindade ia voltar à vida foram conhecidas, em setembro, Américo Santos apontou a data de abertura para apenas dois meses depois. “Tivemos variadíssimos atrasos nas obras”, justifica. Quem olhar para o edifício, quer do lado de fora, quer do lado de dentro, não vai notar quase diferenças. “Não mexemos na estrutura da sala, mantivemos as cadeiras porque têm um certo charme e são muito confortáveis.” Para a equipa da Nitrato Filmes, “mexer nas cadeiras seria descaracterizar a sala”.

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Mas houve um “trabalho invisível” significativo, explica o responsável. Para além de terem trocado toda a instalação elétrica e a circulação de ar, e de terem feito uma casa de banho para espectadores com necessidades especiais, o mais importante foi o investimento em “equipamento de altíssima qualidade”. O material analógico dá agora lugar à projeção digital, há novas telas e um equipamento de som “totalmente novo”.

Falta ainda melhorar a entrada — “dar-lhe identidade”, promete Américo Santos –, que passará a ser feita pelo número 412 da Rua do Almada. Para além de ser uma via mais frequentada que a Rua Dr. Ricardo Jorge, para a qual o Trindade tem a entrada principal, a equipa quer diferenciar o público do cinema daquele que se dirige para o Bingo do Salgueiros, com quem partilham o edifício.

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A entrada passará a ser feita pelo número 412 da Rua do Almada. Falta ainda “dar-lhe identidade”. © Filipa Brito / CMP

Quanto a números, Américo Santos só nos dá os das cadeiras — 183 lugares na sala maior, 168 na mais pequena. Os custos são “top secret”, diz, a rir-se. Admite, contudo, ter gasto “um investimento avultado”. Nos planos estão ainda a criação de “um espaço social inusitado”, que não é bem um café tradicional nem um bar, mas uma mistura de diferentes referências. Para conceber o espaço, que ficará no foyer, a Nitrato Filmes convidou “um diretor de arte que trabalha em cinema”. O resultado “vai ser algo diferente do que as pessoas esperam numa sala de cinema. Acredito que pode ser uma boa surpresa.”

A programação terá 10 sessões diárias. “Isso permite-nos transformar os cinemas Trindade num multiplex de cinema de autor”, a afinar de acordo com a frequência do público. “Não nos interessa programar para nós próprios nem ficar identificados como sala de nicho. Queremos que seja uma sala para toda a gente”, explica. Isso significa ter uma sala para as estreias do momento, dentro do cinema de autor“, onde se incluem, por exemplo, Woody Allen, Pedro Almodóvar ou o filme “Silêncio”, de Martin Scorsese.

A outra sala terá “programação constante, com ciclos, acolhendo festivais, propostas de programadores independentes do Porto, iniciativas ligadas à arquitetura e à psicologia”, bem como conferências, projetos do meio universitário sessões matinais para escolas. O objetivo é abrir o cinema às pessoas da cidade. “Há uma parcela de público que só vai ao cinema na lógica de acontecimento. Vamos ter de criar eventos, como ter sempre um filme ou um debate com uma apresentação de uma personalidade. Algo diferenciador.”

Interior escadaria cinema trindade

O Cinema Tindade encerrou no ano 2000. © D.R.

O preço dos bilhetes será de 6€. “Teremos depois de nos ajustar ao mercado e ver a resposta em termos de receita. Mas não somos partidários de uma política alta de preço”, explica o responsável, que lembra que o Tripass, o novo cartão municipal, inclui o Trindade, mas que o cinema também terá algumas iniciativas próprias, como um cartão de fidelização.

O Cinema Trindade encerrou no ano 2000, numa altura em que a Baixa estava desertificada e os centros comerciais se desenvolviam. Os tempos parecem ter mudado. Enquanto o Trindade se aperaltava, chegava a notícia de que a cidade teria de volta outro dos seus cinemas históricos, o Batalha, que deverá abrir em 2018 pelas mãos da Câmara Municipal do Porto.

Américo Santos acredita que há público para todos, se todos se souberem articular e diferenciar. “A Baixa tem muita gente, falta um espaço para oferecer cinema diariamente, porque neste só existe muito pontualmente. E quanto mais pudermos oferecer, melhor.” Ainda é cedo para saber como e que o Trindade e o Batalha se vão articular. Antes, defende o fundador da Nitrato Filmes, é preciso definir uma política mais global para o cinema na cidade como um todo, para se perceber “que parte caberá a cada um nesse projeto”.