Quinta-feira foi um dia agitado, com avanços e recuos na política externa norte-americana. Depois de o dia de Donald Trump ter começado com um telefonema atribulado com o primeiro-ministro da Austrália, os EUA fecharam aquelas 24 horas com alguns recuos diplomáticos e políticos em relação a Israel, à Rússia e também ao Irão. Para o The New York Times, Donald Trump está agora a “abraçar” alguns dos “principais pilares” da política externa de Barack Obama.

Em relação a Israel, a Casa Branca emitiu um comunicado ao final da noite onde se opunha à construção de novos colonatos judaicos. Esta foi uma posição que levou Donald Trump a criticar abertamente a administração de Barack Obama, quando esta permitiu a aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU de repúdio à construção de colonatos judaicos. Segundo aquela resolução, o avanço dos colonatos defendidos pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, comprometiam a concretização dos esforços pela paz naquela região.

Explicador. Afinal, porque é que Israel se sente atacado?

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Nessa ocasião, Donald Trump escreveu o seguinte no Twitter: “A grande perda para Israel nas Nações Unidas vai tornar muito mais difícil uma negociação por paz. É uma pena, mas nós vamos tratar do assunto na mesma!”.

Este tom — e também o conteúdo — contrasta com o do comunicado divulgado esta quinta-feira pela Casa Branca, onde a administração de Donald Trump acabou por defender a mesma ideia que Barack Obama defendeu. “Embora não acreditemos que a existência de colonatos seja um impedimento para a paz, a construção de novos colonatos ou a expansão dos colonatos existentes além das suas fronteiras atuais poderá não ser útil para esse objetivo ser cumprido”, lê-se no comunicado.

No mesmo texto, é dito que Donald Trump “espera conseguir a paz ao longo da região do Médio Oriente” e que esse será um tema a tratar com Benjamin Netanyahu, que estará de visita aos EUA a 15 de fevereiro. Pouco depois da tomada de posse de Donald Trump, Israel anunciou a construção de novos colonatos judaicos — um total de 5.500.

“As nossas sanções relacionadas com a Crimeia vão continuar”

Outro sinal de que, apesar de tudo, pelo menos parte do statu quo diplomático dos EUA será mantido sob Donald Trump partiu da delegação norte-americana na Organização das Nações Unidas (ONU). Naquela que foi a sua primeira intervenção como embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley falou de forma inequivocamente crítica contra a Rússia quando tratou de falar sobre a guerra no leste da Ucrânia e a ocupação da Crimeia, que aos olhos dos EUA e da União Europeia foi anexada pela Rússia em 2014. Desde então tanto Washington D.C. como o bloco de 28 países na Europa impõe sanções à Rússia.

“A Crimeia é parte da Ucrânia”, disse Nikki Haley. “As nossas sanções relacionadas com a Crimeia vão continuar em prática até a Rússia devolver o controlo da península à Ucrânia. O princípio básico destas Nações Unidas é que os estados devem viver lado a lado em paz.”

A atual embaixadora dos EUA na ONU manteve o léxico condenatório que já era conhecido a Samantha Powers, a sua antecessora escolhida por Barack Obama, no que à Crimeia diz respeito. Nikki Haley falou do “sofrimento de um país por causa das ações agressivas da Rússia”, referiu que estava em decurso uma “ocupação” e exigiu o cumprimento dos termos do Acordo de Minsk, firmado em 2015. E embora tenha dito que os EUA “querem melhorar as suas relações com a Rússia”, disse que a “situação crítica no leste da Ucrânia exige uma condenação clara e forte das ações” de Moscovo.

Em janeiro, ainda antes de tomar posse, Donald Trump falou sobre a possibilidade de suspender as sanções impostas à Rússia. “Se nos dermos bem e a Rússia nos ajudar, porque é que haveríamos de ter sanções contra alguém que está a fazer coisas muito boas?”, disse.