Theresa May prometeu esta sexta-feira, em Malta, disponibilizar mais 30 milhões de libras (35 milhões de euros) para ajuda aos refugiados. O montante deverá ser utilizado especificamente na ajuda aos mais fragilizados durante os meses de inverno, às mulheres e crianças em risco de se tornarem alvos de tráfico humano e à relocalização de refugiados que desejem regressar aos seus países de origem.

Esta é apenas a última “tranche” de um plano de ajuda humanitária que é um dos mais robustos do mundo. Só os EUA destinam mais fundos ao alívio as condições dos refugiados do que o Reino Unido que, desde outubro de 2015, disponibilizou mais de 100 milhões de libras (cerca de 116 milhões de euros) para ajudar as várias agências internacionais a lidar com a crise no Mediterrâneo e mais de dois mil milhões (ou 2,6 mil milhões de euros) apenas para os refugiados sírios, o maior investimento humanitário de sempre no país, segundo números do governo britânico.

Mas os críticos dizem que esta chuva de milhões é uma forma de desviar as atenções das política de imigração do país, que recebeu muito menos refugiados do que outros países europeus e está sujeita à pressão crescente da opinião pública, principalmente depois do referendo à permanência do país na União Europeia, no qual os britânicos escolheram retirar o seu país do bloco dos 28.

O presidente-executivo da Oxfam Reino Unido, uma das maiores associações de assistência social do mundo, Mark Goldring, disse que “enquanto o Reino Unido é bastante generoso na ajuda financeira que disponibiliza, apenas de ofereceu para receber 20 mil refugiados até 2020, o que é manifestamente pouco e um país como o Reino Unido pode e deve fazer muito mais”.

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Refugiados em Calais, norte de França, que foi, entretanto, fechado PHILIPPE HUGUEN/AFP/Getty Images

Neste momento há mais de 4,8 milhões de refugiados sírios, segundo os últimos números da ONU. Mas a esmagadora maioria está alojada em países do Médio Oriente, que têm menos recursos que a Europa para os receberem. Numa conferência na ONU em Nova Iorque, em setembro de 2016, ainda com Barack Obama na presidência dos Estados Unidos, Theresa May resistiu à pressão para aceitar mais refugiados e voltou a frisar que “o governo considera que ajudar os refugiados perto das suas suas áreas de residência tem melhores resultados do que realojar, no Reino Unido, um número pequeno de pessoas”.

Na altura, uma das vozes mais críticas foi uma sua conterrânea: David Miliband, presidente do Comité Internacional de Salvamento disse que Theresa May “devia estar a dizer ‘nós receberemos 20 mil ou 25 mil por ano, quatro vezes mais do que a nossa promessa atual, e assim igualaríamos o esforço de países como o Canadá’ “.

Segundo May, o dinheiro será destinado aos campos de refugiados na Grécia, Balcãs, Líbia, Tunísia, Marrocos, Algéria e Sudão e será utilizado para adquirir agasalhos, tendas e medicamentos. O Reino Unido prometeu também prestar especial atenção às organizações que, no terreno, apoiam mulheres e crianças que estejam particularmente vulneráveis, afastadas de família e amigos ou em risco de exploração sexual.

Segundo o comunicado do governo, serão entregues 22.400 “itens salva-vidas como cobertores, tendas, agasalhos, gorros, luvas e kits de higiene pessoal incluindo produtos para mães e recém nascidos”. O governo prevê também que esta ajuda monetária possa aliviar, através de agências de assistência médica presentes no terreno, mais de 60.000 refugiados “em sofrimento físico ou psicológico” o que incluiria “ajuda médica para as pessoas resgatadas no mar, visitas médicas às pessoas que estão em centros de detenção, assistência legal e assistência à linha da frente do combate ao tráfico humano”.

Algum deste dinheiro deverá também ser canalizado para ajudar aqueles que decidam regressar aos seus países de origem tanto através da ajuda legal, como através da ajuda à reintegração nas suas comunidades de origem e comparticipação no pagamento de viagens. Theresa May lançou ainda a ideia que se deveria estudar a possibilidade de ajudar os países da Ásia e da América Latina a construirem as infraestruturas necessárias à integração de uma parte dos refugiados que continuam a chegar à Europa via Líbia, atualmente a rota mais concorrida de acesso à Europa.

Segundo a ONU, durante os primeiros seis meses de 2016, 282,740 pessoas fizeram a travessia até à Europa, e, dessas, 4,176 terão morrido ou estão desaparecidas – uma média de 11 pessoas por dia.

Desde 2014 que a Síria se tornou o país com mais refugiados ao abrigo do programa de relocalização de refugiados da ONU. Desde que o conflito começou mais de 80 mil sírios foram referidos para este programa, mas há mais de um milhão de pedidos de asilo na Europa pendentes, segundo o Conselho para os Refugiados, sediado no Reino Unido. No total, há perto de cinco milhões de sírios a viverem em campos no Líbano, Jordânia e Turquia.

Desde que o conflito na Síria começou, o Reino Unido recebeu 2.898 refugiados. Por comparação, a Alemanha recebeu 43.706, o Canadá 48.089 e França 16.497. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) identificou mais quase 70 mil sírios para relocalização nos Estados Unidos mas não é possível saber quando estes vistos serão processados dada a ordem executiva de Donald Trump Trump, que recentemente congelou a admissão de refugiados.