Donald Trump não dá descanso às polémicas nem à comunicação social. Esta semana, a revista alemã Der Spiegel resolveu apresentar Donald Trump na capa, a decapitar a Estátua da Liberdade – ícone da democracia norte-americana. E as reações não se fizeram esperar. De acordo com a BBC, outros jornais alemães criticaram publicamente a escolha e o vice-presidente do Parlamento Europeu afirmou que tinha sido “de mau gosto”.

O autor da ilustração, Edel Rodriguez, disse à TSF que a democracia norte-americana estava “em perigo” e que a caricatura que desenhou “é uma reação à forma como o Trump é”. “Luta-se contra a propaganda com outro tipo de propaganda”, disse o ilustrador que nasceu em Cuba, mas que foi aos nove anos para os EUA como refugiado político.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Edel Rodriguez contou à TSF que esteve durante alguns anos a fazer “algum trabalho sobre terrorismo” e que quando Donald Trump começou a aparecer na corrida à Casa Branca, resolveu começar a desenhá-lo. Foi aí que começou a notar as parecenças entre o candidato norte-americano e o conceito de terrorismo, conta.

“Da mesma forma que desenhava terroristas a fazerem isto a pessoas, achei que seria uma ideia interessante mostrar Trump a fazer o mesmo à democracia”, explicou à TSF.

Para o ilustrador cubano, a democracia e a forma como os EUA têm acolhido os imigrantes durante a sua história “está em perigo neste momento por causa desta pessoa”. Para Rodriguez, a “melhor maneira de passar essa mensagem” foi colocar o presidente norte-americano a decapitar a icónica Estátua da Liberdade.

“Toda a gente percebe o que isto significa. Podem discordar, mas toda a gente percebe”, explicou, acrescentando que o monumento nova-iorquino simbolizava as “boas-vindas a emigrantes de todos os países”.

Imagem “prejudica o jornalismo”, diz a concorrência

Em reação, o diário popular Bild criticou a revista por comparar Trump aos fundamentalistas do Estado Islâmico (EI), acusando-a ainda de voltar a cair no “antiamericanismo” de ocasiões anteriores, segundo a agência Lusa.

O diário Frankfurter Allgemeine considerou, por sua vez, que a capa carece de ironia e que a analogia com os jihadistas era simplista, alimentando até os diferendos que Trump tem tido com vários media.

“A imagem apresentada pela Der Spiegel é exatamente o que necessita Donald Trump: uma aparência distorcida de si mesmo, que pode usar para a sua própria imagem distorcida dos media”, argumenta este jornal alemão.

Para o Die Welt, a imagem “prejudica o jornalismo”, mais do que o Presidente norte-americano, já que “confirma os preconceitos de muitas pessoas” de que os media não são neutros, e que “muitos jornalistas preferem promover a sua visão do mundo, em vez de serem testemunhos isentos do que se passa”.

A 27 de janeiro, Donald Trump assinou uma ordem executiva que proibia a entrada de imigrantes de sete países muçulmanos – Iraque, Irão, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen -, nos EUA. Uma semana depois, já tinham sido impedidas de entrar no país 60 mil pessoas com vistos válidos. Pouco depois, o juiz federal James Robart, de Seattle, ordenou a suspensão temporária da medida, a nível nacional.

O Departamento de Justiça norte-americano anunciou que vai interpor um recurso urgente à decisão de James Robert. E Donald Trump não perdeu tempo no seu meio de comunicação preferido, o Twitter. Foi lá que atacou “o suposto juiz”, reclamando que tem o direito de controlar quem entra ou não nos EUA. O Departamento de Estado norte-americano já veio, contudo, revogar o cancelamento dos vistos.