No início da semana, a família de Fatemeh Reshad tinha visto ser cancelada uma reunião no Dubai onde deveria receber o visto para viajar até aos EUA. A vida da bebé, de quatro meses, está dependente de uma cirurgia ao coração que Reshad ia receber num hospital norte-americano. Graças à decisão do juiz federal James Robart de suspender o bloqueio à entrada nos Estados Unidos de imigrantes de países de maioria muçulmana, a família da criança pode receber o visto de entrada nos EUA.

A família da menor tinha viajado do Irão para o Dubai para uma reunião na embaixada dos Estados Unidos, descreve o The Guardian. Nas semanas anteriores tinham preparado toda a documentação necessária para avançar com o processo, quando os pais foram surpreendidos pela ordem executiva do Presidente Donald Trump. “Para receber o visto, pedem muitos papéis. Tem de fazer-se muitas coisas e durante três semanas estivemos a trabalhar para [preparar] cada um dos documentos que pedem”, disse o tio da criança.

É um pesadelo, os papéis, estava tudo pronto e no último minuto cancelaram tudo”, desabafava o tio da bebé.

Segundo Sam Taghizadeh, a informação transmitida pelos médicos iranianos que a acompanham aos pais da menor era clara: ou a bebé era operada rapidamente para corrigir as anomalias cardíacas com que nasceu ou podia morrer brevemente. “No Irão, há 20 a 30% de hipóteses de sucesso na cirurgia, enquanto aqui há 97% de hipóteses de sucesso”, disse outra advogada que está a prestar apoio à família.

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Para ver o seu problema resolvido, Reshad precisava de receber várias intervenções cirúrgicas, diz o tio, um cidadão americano que vive em Portland, no estado norte-americano do Oregon, e que voltou a acreditar num reencontro em breve com os seus familiares. O fundamental, agora, era que fosse alvo de pelo menos uma dessas intervenções, para garantir que a sua vida fica livre de perigo.

Ela está numa situação urgente e se o processo demora demasiado tempo vamos perdê-la”, garantia Samad, citado pela SkyNews.

A advogada Jennifer Morrissey tem estado a dar apoio à família na preparação da viagem de Fatemeh Reshad até Portland — onde a bebé deverá ser operada. Nessa troca de correspondência entre os EUA e o Irão, Morrissey conta que os pais de Reshad e os clínicos que a acompanham no país de origem foram enviando alguma documentação do processo clínico da criança. Documentos que provam que a bebé tem um problema grave — alguns media norte-americanos falam numa anomalia na artéria, outros descrevem a existência de dois orifícios no coração que precisam de ser rapidamente tratados.

Com a urgência da intervenção a pender sobre as autoridades, a expetativa é a de que Fatemeh Reshad possa aterrar nos EUA já na próxima semana, depois de ter recebido uma autorização urgente para voar até ao país. “Esta tarde, ficámos satisfeitos por saber que o Governo federal atribuiu a Fatemeh Reshad e à sua família o documentos de embarque para virem para os Estados Unidos” anunciou o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, na sexta-feira.

Nos Estados Unidos, o caso já galgou fronteiras e começou a gerar apoio junto da opinião pública, colhendo eco em figuras do partido Democrata. Numa referência à situação da bebé, Cuomo considerou que a ordem executiva assinada por Donald Trump há uma semana — impedindo milhares de imigrantes e refugiados de entrar no país — foi orientada por motivações erradas. “Por mais bizarro que pareça, o bloqueio federal ia impedir que esta criança recebesse cuidados médicos, pondo literalmente em risco a sua vida”, disse o governador nova-iorquino.

Cuomo anunciou ainda que os médicos do hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, decidiram ajudar a criança sem cobrar qualquer valor — resolvendo assim uma das questões vitais para que a menor recebesse o visto humanitário, ter a intervenção paga de forma adiantada. O caso tomou uma dimensão mediática significativa, ao ponto de um escritório de advogados norte-americano também ter decidido pagar as custas da viagem de Fatemeh e da família.

“Acreditamos que esta medida é repugnante para todos, como americanos e como membros da família humana”, considerou o governador, mostrando-se “satisfeito” com a reversão da medida, possibilitada pela decisão do juiz James Robart. “Vamos continuar a trabalhar com o Projeto de Assistência aos Refugiados Internacionais e aos pais [de Fatemeh Reshad] para garantir que este bebé recebe o tratamento de que precisa e para lutar por aqueles que estão a ser injustamente fechados fora dos portões dos EUA por esta medida”.

Na sexta-feira, a congressista Suzanne Bonamici mostrou a foto de Fatemah e apresentou o caso da criança iraniana na Casa dos Representantes. “Esta é a Fatemeh, ela não é uma terrorista. É um bebé de quatro meses que precisa de uma operação urgente de peito aberto. Os pais dela procuram desesperadamente os melhores cuidados para ela, por isso planeavam trazê-la de sua casa, no Irão, até Porland, no Oregon, para um dos melhores hospitais de cirurgia pediátrica”.

Nos EUA, o caso de Fatemeh está a tornar-se um símbolo da luta contra o bloqueio à entrada universal de imigrantes e refugiado vindos de sete países de maioria muçulmana, entre os quais o Irão.