“Quinta-feira e Outros Dias”, é o título das novas memórias de Cavaco Silva sobre a década em que coabitou com José Sócrates, Pedro Passos Coelho e António Costa. É apresentado esta quinta-feira, 16 de fevereiro, pelas 18h30, na sala Almada Negreiros do Centro Cultural de Belém. A apresentação estará a cargo de Manuel Braga da Cruz.

Cavaco nunca fala muito. Nem em funções nem ao sair dos cargos. Quando foi primeiro-ministro, deu umas entrevistas a criticar as opções do Governo socialista de António Guterres, escreveu uns artigos, mas só seis anos depois de estar afastado do poder escreveu as suas memórias. Cavaco saiu em 1995 do Executivo e publicou o primeiro dos dois volumes da sua Autobiografia em 2001. Agora demorou apenas 11 meses a lançar o livro. O ex-presidente justifica-se num texto publicado no site da Fnac:

Tendo mantido até agora reservada parte importante da minha ação como Presidente da República, convicto de que essa era a melhor forma de defender o superior interesse nacional – e nunca tendo ocorrido fugas de informação para a comunicação social sobre o que se passou nos meus encontros com o Primeiro-Ministro e outros membros do Governo –, entendo que é altura de completar a prestação de contas aos Portugueses dando público testemunho de componentes relevantes da minha magistratura que são, em larga medida, desconhecidos dos cidadãos”.

Nos 10 anos que passou em Belém, Cavaco Silva teve centenas de reuniões com os primeiro-ministros, das quais nada ou quase nada se soube. Não aconteceu o mesmo no tempo em que foi primeiro-ministro. Um dos aspetos da coabitação que mais irritava Cavaco eram as fugas de informação sobre os encontros que tinha com Mário Soares, que saíam da Casa Civil para os jornais. Nos volumes da sua Autobiografia, revelou detalhes de reuniões com o Presidente da República socialista, com o qual nunca teve empatia pessoal (apesar de um primeiro mandato presidencial pacífico e do apoio do PSD à segunda candidatura de Soares). Cavaco revelou, por exemplo, como Mário Soares se irritou com ele por causa da assinatura dos acordos de paz em Angola, e como fazia pressões para o Governo mudar a direção da RTP ou a cobertura jornalística que a televisão pública fazia das iniciativas presidenciais.

Neste livro, o ex-Presidente da República conta as conversas que teve com José Sócrates sobre temas como a compra da TVI pela PT, o pedido de resgate a Portugal que levou à demissão do socialista, ou o “caso das escutas”, que motivou o afastamento do seu braço direito de sempre, Fernando Lima — que em 2015 escreveu o livro Na Sombra da Presidência, a arrasar Cavaco Silva, onde entre outros apontamentos negativos diz que o Presidente tinha medo dos socráticos. Ambos os autores são publicados pela Porto Editora.

No que se refere ao segundo mandato, está por esclarecer a influência de Cavaco nos anos da troika, sobretudo os contributos que teve para segurar ministros como Vítor Gaspar nas Finanças ou Paulo Portas como pilar da coligação. A crise do “irrevogável” terá levado Cavaco a alterar (de novo) a ideia que tinha refeito sobre Paulo Portas — um dos personagens implícitos nas Autobiografias por causa dos efeitos como diretor de O Independente. A formação da solução política da “geringonça” — contra o qual Cavaco Silva se manifestou publicamente desde o primeiro momento — é outro dos capítulos da vida política em que se esperam revelações cavaquistas.

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