Uma explosão na sala das máquinas do reator 1 da central nuclear de Flamanville, em França, provocou cinco feridos ligeiros esta quarta-feira. Embora não haja risco de contaminação radioativa, para Francisco Ferreira, presidente da Associação Zero, este é “mais um aviso sério do que pode correr mal” em Portugal: “Esta central nuclear tem o mesmo tipo de reator que Almaraz, mas é mais recente e moderna. Se é assim num país com enorme experiência, imagine como poderia ser aqui. Espanha não está preparada para lidar com um evento nuclear e Portugal muito menos”, conta ao Observador.

Basta olhar para a História e entender de onde vieram estas preocupações, diz-nos Nuno Sequeira, da Quercus: “Os acidentes podem acontecer, estas centrais não são mais seguras. Os três maiores acidentes em centrais nucleares aconteceram precisamente nas três grandes potências exploradoras da energia nuclear, que são os Estados Unidos, o Japão e a antiga União Soviética”, recorda-nos. E não é preciso muito para haver problemas numa central nuclear: de acordo com a Associação Zero, o último incidente em Almaraz, a 100 quilómetros da fronteira portuguesa, aconteceu porque um botão não funcionava e acabou por comprometer a bombagem de água de um dos circuitos.

Mas para que servem e como funcionam as centrais nucleares? Estas são sete perguntas essenciais para entender o tema:

O que é a energia nuclear?

É a energia que mantém juntos os neutrões e os protões que compõem o núcleo de um átomo. Tendo em conta o Princípio da Equivalência de Energia e Massa, essa energia pode ser libertada durante processos de transformação dos núcleos atómicos — as reações nucleares — e a seguir utilizada para produzir eletricidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Como é que essa energia pode ser libertada?

Através de dois processos diferentes: por fissão nuclear ou por fusão nuclear. No caso da fissão nuclear, são usados isótopos de certos elementos instáveis que se dividem em dois átomos menores e mais estáveis, libertando energia no processo. No caso da fusão nuclear, dois átomos combinam-se e fundem-se para formar átomos maiores, libertando mais energia do que aquela que consome. A fissão nuclear é a que acontece nas centrais nucleares, enquanto a fusão nuclear é a usada pelo Sol para produzir energia.

O que é uma central nuclear?

É uma instalação industrial onde é produzida energia elétrica através da energia libertada durante os processos de fissão nuclear. Para funcionar, uma central nuclear utiliza material radioativo que, durante essa fissão, liberta energia sob a forma de calor. Esse calor é utilizado para aquecer água que, uma vez transformada em vapor, faz girar turbinas que convertem a energia da rotação em eletricidade.

Qual é a diferença entre uma central e um reator nuclear?

As centrais nucleares podem ter um ou mais reatores nucleares. Os reatores são infraestruturas herméticas onde não entra nem sai radiação e onde ocorrem os processos de fissão nuclear que desencadeiam a produção de energia elétrica. Num reator nuclear de fissão, os que compõem todas as centrais nucleares que existem na atualidade, são usados átomos de urânio.

Que partes compõem um reator nuclear?

São precisas sete partes para que um reator nuclear funcione: o combustível, que normalmente são isótopos de átomos de urânio (U-233, U-235 ou U-238), átomos de plutónio (Pu-239) ou átomos de tório (Th-232); o moderador, que reduz a velocidade dos neutrões criados durante a fissão nuclear para que possam atingir outros átomos prontos para se separarem; o refrigerador, que encaminha o calor da fissão nuclear para as turbinas geradoras de eletricidade; o refletor, que impede a perda de neutrões e permite a continuidade das reações nuclear; a blindagem, que evita a perda da radiação; o material de controlo (cádmio ou boro), que absorve os neutrões no final da reação; e os elementos de segurança, como o cimento que evita que a radiação escape para o exterior.

Que tipos de reatores nucleares de fissão existem?

Os dois principais tipos de reatores de fissão nuclear são o reator de água pressurizada (PWR, do inglês “pressurized water reactor”) e reator de água fervente (BWR, do inglês “boiling water reactor”). No PWR, a água é aquecida pela energia da fissão nuclear e o calor é transferido para outro tanque de água. Essa água é aquecida, evapora e move uma turbina que gera energia elétrica. Para saber mais, leia o nosso Explicador sobre o assunto neste link. No BWR, a energia térmica gerada pela reação nuclear faz ferver a água. O vapor produzido faz girar uma turbina que aciona um gerador elétrico. Entretanto, o vapor passa num condensador e volta ao estado líquido. Há outros tipos de reatores, mas muito mais raros.

O que são as “gerações dos reatores nucleares”?

São classificações internacionais para o nível de modernidade e segurança dos reatores nucleares. As primeiras centrais nucleares tinham reatores nucleares de primeira geração e são agora obsoletos, como é o caso do reator Gás Grafite de Urânio Natural (UNGG), da central nuclear de Chooz e o Magnox. Na atualidade, as centrais nucleares têm reatores de segunda geração, mas que começam agora a chegar ao limite do seu prazo de vida, por isso a maior parte dos Governos está a planear a construção de reatores nucleares de terceira geração nas suas centrais, tornando-as mais modernas e seguras.