Altos responsáveis políticos e públicos do Brasil, Colômbia, do Perú, Venezuela, México, Equador, Panamá. E a lista de países, sobretudo da América do Sul, não pára de aumentar quando se fala dos envolvidos no caso dos subornos pagos pela empresa Odebrecht — uma das maiores construtoras da América latina — para ganhar contratos de construção. O escândalo já apanhou um ex-presidente (Alejandro Toledo, do Perú) e até um presidente em funções (Juan Manuel dos Santos, Colômbia). O antigo presidente da multinacional, Marcelo Odebrecht, foi uma peça fundamental para o novelo do caso começar a desfiar-se, bem como os testemunhos de outros responsáveis da empresa que nos últimos 15 anos movimentou quase 800 milhões de dólares para influenciar responsáveis políticos de 12 países.

O El País fez um levantamento dos países mais afetados pelo escândalo de corrupção e o Observador recolhe aqui os principais nomes e números deste caso, começando pelos três países onde até agora a investigação chegou mais fundo. E a procissão ainda vai no adro, depois de recolhidas as confissões dos responsáveis da empresa que aceitaram colaborar com a justiça.

Brasil

É o país berço do caso, na medida que foi na investigação do mega-processo de corrupção Lava Jato que se descobriu esta teia paralela de troca de favores: políticos a desbloquearem processos legislativos ou planos de construção e pagos por isso pela construtora interessada, a Odebrecht. Esta é apenas um caso paralelo do escândalo de corrupção e de lavagem de dinheiro que envolveu a empresa estatal Petrobras e fez até cair a presidente Dilma Rousseff. Os impactos no Brasil são imensos e também tocam o ex-presidente Lula da Silva e até o atual, Michael Temer, com o PMDB a surgir na lista de partidos que receberam dinheiro da construtora. Numa segunda linha, está também envolvido o dirigente do PSDB José Serra, atualmente ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil

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É também neste país que vive e que hoje está preso (desde 2015) o herdeiro e antigo presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, peça-chave no processo pela colaboração que está a ter com a justiça na denúncia de nomes e casos envolvidos no esquema de corrupção da empresa que liderava, ao abrigo do acordo de delação premiada. Pela colaboração tem uma redução de pena em 10 anos (a condenação está nos 19). Não e o único a colaborar, outros responsáveis da construtora estiveram a ser ouvidos pelas autoridades brasileiras, mas os depoimentos estão mantidos em segredo de justiça.

Colômbia

Terça-feira o caso Odebrecht incendiou a Colômbia. Já era conhecido o suborno recebido pelo antigo senador colombiano Otto Nicolás Bula, detido em janeiro, por ter favorecido contratos de construção com a Odebrecht, mas neste dia soube-se também que parte desse dinheiro foi canalizado, afinal, para financiar a campanha presidencial para a reeleição de Juan Manuel dos Santos, em 2014. Otto Bula recebeu uma comissão de 4,6 milhões de dólares, um milhão dos quais terão sido transferidos para a campanha de Santos, de acordo com o Ministério Público colombiano.

Não fica por aqui o envolvimento de responsáveis políticos dos últimos anos neste caso de corrupção. Também em janeiro, o Ministério Público prendeu Gabriel García, que foi ministro dos Transportes entre 2009 e 2010, por ter alegadamente recebido 6,5 milhões de dólares da construtora brasileira para garantir uma obra numa das principais estradas do país.

Perú

O ex-presidente peruano Alejandro Toledo aguarda a decisão sobre a sua prisão preventiva. É mais um dos altos responsáveis que este caso apanhou, com a investigação a acusá-lo de ter recebido 20 milhões de dólares da construtora por projetos no Perú. Mas as ligações às autoridades peruanos vão além daquela administração, apanhando também outros presidente: Alan Garcia (presidente do Perú entre 2006 e 2011) e de Ollanta Humala (entre 2011 até 2016). No casos destes dois antigos responsáveis políticos, os subornos serviram para financiar as suas campanhas eleitorais.

E o escândalo também atinge outros responsáveis peruanos, como é o caso do vice ministro das Comunicações, Jorge Cuba, suspeito por ter recebido dois milhões de dólares para garantir que a Odebrecht ganhava a obra do metro.

México

Outras das confissões feitas por administradores da construtora diz respeito a pagamentos na ordem nos 10 milhões de dólares “a altos funcionários de uma empresa controlado pelo Estado” no México, no período entre outubro de 2013 e o final de 2014.

Panamá

Denúncias da empresa dão conta de pagamentos de 22 milhões de dólares que estarão numa conta na Suíça dos dois filhos do ex-presidente Ricardo Martinelli. Também na Suíça foram congeladas contas de Amado Barahona, responsável do Governo do ex-presidente Martín Torrijos (de 2004 a 2009), por envolvimento no escândalo de corrupção da construtora.

Venezuela

Aqui o caso envolve uma série de intermediários com acesso a empresas públicas que conseguiriam informações confidenciais para a Odebrecht em troca de pagamentos que terão ascendido aos 98 milhões de dólares. O mesmo aconteceu na República Dominicana onde o valor destes pagamentos chegaram aos 92 milhões de dólares.

Argentina

Nem só das presidências Krichner se faz o caso Odebrecht na Argentina. Durante este período foi grande o volume de negócios com a empresa brasileira que envolveu vários intermediários e 35 milhões de dólares por favores, mas caso atingiu também, no início deste ano, Gustavo Arribas, o responsável pelos serviços de informação do país e amigo íntimo do atual presidente Mauricio Macri. Arribas está a ser investigado pelas autoridades locais por supostamente ter recebido 600 mil dólares numa conta na Suíça por subornos da Odebrecht.