Misael López Soto. Este é o homem que está no centro de uma investigação aprofundada da CNN, cujas conclusões estão detalhadas na reportagem do órgão norte-americano. Misael está neste momento a viver num local desconhecido nas redondezas de Toledo, em Espanha, depois de ter denunciado um esquema de corrupção através da venda de passaportes venezuelanos a cidadãos iraquianos — os passaportes foram vendidos por funcionários da Embaixada venezuelana no Iraque a pessoas em que se incluía gente com ligações ao Hezbollah e outras organizações terroristas. O jurista denunciou o caso ao Governo de Hugo Chávez, em Caracas, mas a resposta não foi a que ele esperava.

Toda a gente recebia um “pedaço”. Desde o próprio Embaixador da altura, Jonathan Velasco, até uma funcionária que trabalhava como tradutora. Segundo Misel López Soto, vários colegas o convidaram a participar no esquema que estava montado e que poderá ter permitido que cidadãos iraquianos tenham conseguido forjar a sua identidade e tenham conseguido entrar em várias dezenas de países, incluindo os países da União Europeia. O homem, com formação jurídica e que foi para a Embaixada em 2013 para trabalhar como consultor jurídico, recusou sempre ser envolvido no esquema.

Velasco “deu-me um envelope cheio de vistos e passaportes. E disse-me: toma lá isto, está aqui um milhão de dólares. Há pessoas aqui que estão dispostas a pagar muito dinheiro para obter um visto ou um passaporte, para sair do país [Iraque]”. Misael pensou que era brincadeira, mas rapidamente percebeu que não era quando uma colega, contratada como tradutora, lhe disse que toda a gente ali estava a par do negócio e recebia esse “extra”.

A investigação da CNN revelou que o atual vice-presidente da Venezuela, Tareck El Aissami, está ligado a 173 passaportes que foram emitidos a pessoas vindas do Médio Oriente, incluindo terroristas do Hezbollah que apesar de terem nascido no Iraque “ganham” uma identidade “alternativa”, com nomes latino-americanos. Entre essas pessoas estava, segundo os registos que Misael López Soto recolheu, era um traficante de droga condenado no Iraque que obteve um passaporte venezuelano que dizia que tinha nascido na Venezuela.

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As pessoas vinham de países como o Iraque, a Síria, Palestina e Paquistão. Um passaporte custava entre cinco mil e 15 mil dólares.

López Soto tentou falar com o Embaixador mas, segundo ele, foi ameaçado. Pelo que decidiu dirigir-se ao Governo de Caracas para denunciar o caso, apoiado nos documentos que foi recolhendo, mas acabou por ser repreendido por estar a difundir informação secreta. O último reduto de López Soto foi falar com um agente do FBI norte-americano em Madrid, o que para o jurista significou ser despedido e, na prática, exilado.

“Receio pela minha segurança e pela segurança da minha família, em todos os locais onde vou”, afirmou López Soto à reportagem da CNN. Ainda assim, garante que não tem arrependimentos e que sente que fez “a coisa correta”. O homem tem um vídeo no Youtube onde apresenta o seu caso:

Misael López Soto conta neste vídeo de 2015 que o colega que o ajudou a fugir de Bagdad foi “assassinado nessa mesma tarde”. O vídeo é uma denúncia de que “as embaixadas da Venezuela no Médio Oriente são usadas como forma de documentar pessoas sem qualquer ligação à Venezuela com papéis venezuelanos”.