Faz esta quinta-feira uma semana que Théo foi brutalmente violentado por agentes policiais em Aulnay-sous-Bois, nos subúrbios de Paris, em França. Desde então as manifestações anti-racismo e contra a violência policial têm-se multiplicado e já foram detidos mais de 50 manifestantes e condenadas cinco pessoas. Entretanto, um relatório preliminar da Inspeção Geral da Polícia Francesa fala em ato “não intencional”.

O jovem negro de 22 anos, sem antecedentes criminais, acusa um dos quatro polícias que o detiveram de o ter violado com um bastão extensível, no passado dia 2 de fevereiro. Théo conta que se estava a dirigir para casa de uma amiga quando foi intercetado pelo grupo de polícias.

“Pediram-me para pôr as mãos atrás das costas e, algemado, pediram-me para sentar. Lançaram-me gás lacrimogéneo e bateram-me e, ao sentar-me, senti uma dor horrível no rabo”, explicou o detido, em declarações citadas pela cadeia de televisão BMFTV, acrescentando que foram os próprios agentes policiais a levá-lo para o hospital, onde chegou com um rasgão anal de 10 centímetros e lesões no esfíncter.

O advogado de Théo — que recorreu ao Instituto Nacional da Defesa dos Direitos, pedindo que se abra uma investigação ao caso e à forma como a polícia atua nestes bairros — também já disse publicamente que os polícias, no caminho para o hospital, ainda o insultaram, chamando-o de preto, cuspiram-lhe em cima e bateram-lhe na cara e na zona genital.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A versão da procuradoria é diferente: os agentes, que estavam a vigiar pontos de venda de droga naquela localidade, apenas usaram gás lacrimogéneo e “um bastão extensível” porque ele resistiu à detenção.

Apesar desta versão, o Ministério do Interior decidiu, no domingo, suspender os quatro polícias envolvidos, com idades entre os 20 e os 40 anos. Um deles é acusado de violação e os outros três de “violência voluntária”.

Tese que a Inspeção-Geral da Polícia Nacional (IGPN), numa primeira análise ao sucedido, afastou, esta quinta-feira. Os investigadores recusam que tenha havido uma “violação deliberada”, tendo em conta as imagens de vídeo-vigilância. Mas o procurador de Bobigny já veio dizer que estas impressões eram conhecidas desde domingo e deixa claro que a investigação continua.

Théo apela à calma, mas distúrbios multiplicam-se

Da cama de hospital, onde continua internado depois de ter sido operado, Théo — que recebeu a visita do Presidente François Hollande na passada terça-feira — tem apelado à calma desde o início da semana. “Quero enviar uma mensagem de calma para a minha cidade porque gosto muito dela e espero encontrá-la como a deixei. A violência não é a forma de me apoiarem, a justiça fará o seu trabalho.”

Um apelo que foi repetido, esta quinta-feira, pelo perfeito de Aulnay-sous-Bois.

Mas de pouco têm valido estas palavras. A violência de que o jovem foi vítima na passada semana voltou a acender a chama nos subúrbios de Paris, e não só.

Nos últimos dias várias têm-se repetido manifestações em vários bairros, com dezenas de carros incendiados e outros atos de vandalismo pelas ruas, que já resultaram em mais de 50 detenções. Cinco pessoas foram condenadas: duas a seis meses de prisão efetiva e outras três a seis meses de prisão suspensa. A sexta foi absolvida pelo juiz.

Alguns desses distúrbios têm acontecido em Seine-Saint-Denis, na mesma área onde em 2005 se viveram graves episódios de violência urbana, após a perseguição pela polícia, seguida de morte acidental, de dois jovens, Bouna Traoré e Zyed Benna.

Também em Nantes, Rennes e, esta quinta-feira, em Lille têm desfilado centenas de pessoas em protesto contra a ação policial.