A docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Fátima Reis afirmou que não há razões para os açorianos temerem a criação de uma incineradora, de nova geração, na ilha de São Miguel.

Fátima Reis foi uma das oradoras, na cidade da Lagoa, na ilha de São Miguel, de uma sessão de esclarecimento, da MUSAMI — operações Municipais do Ambiente, sobre o projeto da Central de Valorização Energética, que contempla a criação de uma incineradora.

“Houve muitas incineradoras que fecharam porque pertenciam à geração anterior, em que ainda não se tinha dado a evolução tecnológica que permite agora ter uma nova geração de incineradoras sem os problemas que as pessoas temem”, disse, em declarações aos jornalistas, no final da sessão que ultrapassou as cinco horas.

A docente admitiu que os riscos associados à incineração “não são nulos”, mas salvaguardou que existe uma “maior segurança” e redução dos impactos ambientais que levam os cidadãos a “terem mais confiança”.

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“Não se pode dizer que não há risco para a saúde pública. Todas as coisas têm risco, mas o risco acrescido, e provei isso com os estudos de 20 anos, não é diferente para as populações que vivem perto das incineradoras e para as que vivem longe”, declarou.

O ambientalista Rui Berkemeier, da Associação Sistema Terrestre Sustentável ZERO, defendeu que existem soluções que, “no mínimo, podem reduzir para metade a incineração”, exemplificando mesmo com casos nos Açores, designadamente nas Flores e Graciosa.

“Há soluções de tratamento mecânico e biológico que permitem reciclar, criar postos de trabalho, estando esta solução para a ilha de São Miguel fora do tempo. Estamos no século XXI, queimar lixo em bruto já não se usa”, declarou o ambientalista.

Entretanto, Os Verdes reafirmam, em comunicado, que a incineração “não é uma solução compatível com a saúde pública e com um ambiente sadio a que todos têm direito”.

Os ecologistas apontam a libertação de “substâncias perigosas para a atmosfera”, que se acumulam nas pastagens e passam para o leite das vacas, “produto fundamental” na economia açoriana, ou que se bioacumulam nos diversos seres vivos, incluindo os seres humanos, sendo causa de “diversas patologias graves”.

“Para além desta questão, as cinzas resultantes da queima constituem resíduos tóxicos perigosos, muito mais perigosos que os resíduos que lhes deram origem”, refere-se.

O movimento cívico “Salvar a Ilha” reafirmou a sua oposição à incineração, considerando que este processo “contraria a hierarquia da gestão dos resíduos” e constitui uma “forte ameaça” para a saúde pública, ambiente, imagem e economia dos Açores.

De acordo com o movimento, está-se perante um “investimento arriscado, um falhanço estratégico, sem futuro” e que “revela uma péssima gestão dos dinheiros públicos”.