Ia a caminho dos escritórios da administração da loja de roupa em que trabalha, no segundo piso do centro comercial Amoreiras, quando ouviu o estrondo. Só viu depois: “Estava um homem dentro da Boutique dos Relógios a partir a montra, com uma marreta gigante, daquelas das obras, de cabo de madeira”.

O relógio marcava 10h20, tinha picado o ponto, como de costume, às 9h30, as lojas estavam abertas há pouco mais de 20 minutos, não havia muitos clientes ainda no centro comercial. Durante os segundos em que ficou, paralisado, a assistir à cena, o funcionário ainda teve tempo para ver chegar dois seguranças, a correr, que foram recebidos por um segundo homem, de rosto destapado, óculos de vidro, casaco preto, gorro do mesmo tom na cabeça, e pistola na mão: “Deitados no chão, já!”

Apesar de as primeiras informações da Polícia de Segurança Pública (PSP) à imprensa darem conta de apenas dois assaltantes, existiria um terceiro, diz Marta Romão, responsável pela comunicação da Mundicenter, proprietária do centro comercial. No momento em que os primeiros seguranças apareceram, o terceiro homem estaria no interior da loja, de onde terão sido furtados relógios e jóias de valor ainda por apurar.

Embora não consiga precisar quantos funcionários estavam a trabalhar na altura, Marta Romão garante que não houve “danos humanos” a registar. Por ter envolvido uma (ou mais) armas de fogo, o caso passou entretanto para a jurisdição da Polícia Judiciária (PJ), que já terá recolhido as imagens das câmaras de videovigilância e estará neste momento a tentar identificar os assaltantes.

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“Fiquei em choque, a seguir a senhora da limpeza agarrou em mim e escondemo-nos na casa de banho”, continua a contar o funcionário da loja de roupa, que não quer ser identificado, ao Observador. “Tinham um ar absolutamente normal, o mais assustador é isso. Não sei como entraram com a marreta no centro sem ninguém perceber.”

Fizeram mais do que isso: além de terem entrado armados na zona comercial, em Lisboa – fonte do centro garante que levavam apenas uma pistola, que não dispararam; vários lojistas referem também uma metralhadora e afiançam que ouviram tiros de aviso -, subiram até ao segundo andar, percorreram o caminho até à Boutique dos Relógios, num canto em frente ao restaurante McDonald’s, fizeram o assalto, e voltaram a sair. Terão fugido em duas motas. “Na direção da A5”, contou fonte da PSP ao Observador.

Lojas a meio gás num shopping que não fechou portas

Ninguém consegue precisar quanto tempo estiveram os homens dentro da relojoaria ou sequer no interior do centro comercial, que tem três saídas diretas para a rua (e vários elevadores que dão acesso aos pisos de estacionamento subterrâneo). O que é certo é que, depois do estrondo e dos gritos iniciais, os lojistas da zona foram avisados pelos seguranças para fecharem as grades dos respetivos estabelecimentos e para se deixarem ficar lá dentro. “Por volta das 11h reabrimos”, explica a funcionária de uma perfumaria.

Apesar do pânico, que levou vários funcionários a abandonar os postos de trabalho – “Não vi nada, ouvi o barulho e os gritos e fugi para a rua, para a porta do Liceu Francês, só voltei quando me disseram que era seguro”, conta a funcionária de uma loja de gelados -, o centro comercial não chegou a ser encerrado. De acordo com Marta Romão, o acesso ao piso superior foi restringido, com a paralisação de escadas rolantes, mas as portas das Amoreiras mantiveram-se abertas.

“Isto é grave, foi um assalto à mão armada, num shopping, em plena luz do dia, dizem que eles traziam metralhadoras! Como é que é possível não terem fechado as portas?! O shopping tem uma grande falta de segurança”, acusa outra lojista, que também recusou ser identificada.

Alheios a isso, cerca de uma hora e meia depois do assalto, eram muitos os clientes a fazer compras nas mais de 150 lojas do centro comercial,inaugurado a 27 de Setembro de 1985, no final da Avenida Engenheiro Duarte Pacheco. Uma mãe, com o filho de oito anos, arrepia-se quando ouve o que aconteceu mas mantém o plano de almoço. Numa loja de roupa, uma cliente diz que até ouviu as notícias do assalto mas que decidiu ir às compras na mesma: “Por que não haveria de vir? Aqui é que eles não estão, é o sítio mais seguro agora”.

Os momentos após o assalto, com a entrada da loja semicerrada por um gradeamento, foram captados pela SIC Notícias e estão a circular pelas redes sociais:

https://youtu.be/xBB8nBRVQ7o