A fotografia que captou o grito de Mevlüt Mert Altintas, o homem de 22 anos que disparou contra o embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, em dezembro do ano passado é a vencedora do World Press Photo 2017. A imagem foi captada pelo fotojornalista da Associated Press (AP) Burhan Ozbilici, que se encontrava no interior da galeria de Ancara quando o ataque se deu.

O momento captado por Burhan Ozbilici aconteceu 19 de dezembro de 2016, durante a inauguração de uma exposição de fotógrafos russos na Galeria de Arte Contemporânea de Ancara, na Turquia. Andrei Karlov, embaixador da Rússia na Turquia, tinha acabado de fazer um discurso de inauguração quando Mevlüt Mert Altintas começou a disparar. De 22 anos, Altintas era polícia e fazia parte do dispositivo de segurança de Karlov.

Depois dos disparos, o atacante fez um discurso sobre a situação dramática que se vivia na Síria. “Não se esqueçam da Síria! Não se esqueçam de Alepo!”, gritou Altintas, que acabou por ser abatido a tiro pelas autoridades turcas.

A imagem, “An Assassination in Turkey”, ganhou o prémio de Fotografia do Ano do World Press Photo (Burhan Ozbilici/AP/WORLD PRESS P/EPA)

“Sou jornalista, tenho que fazer o meu trabalho”

O encontro do fotojornalista Burhan Ozbilici com a cena que acabou por captar aconteceu por acaso. Num relato que publicou posteriormente num blogue da Associated Press, Ozbilici contou que só entrou na galeria para fotografar a exposição “porque estava a caminho da redação”. Quando lá chegou, “os discursos já haviam começado”, tendo-se aproximado “para fotografá-lo [o embaixador], pensando que as fotos viriam úteis para histórias sobre as relações turco-russas”. Foi nesse momento que se ouviu o primeiro disparo, e Ozbilici não parou de fotografar.

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Num primeiro momento, o fotojornalista da AP ainda pensou que se tratava de uma “representação teatral”, tal era a forma “rotineira” com que decorria a inauguração. Quando percebeu que não era, tentou procurar abrigo e continuar a fazer o seu trabalho. No meio do pânico, as pessoas “escondiam-se atrás de colunas, debaixo de mesas e deitaram-se no chão.” Ozibilici teve, no entanto, sangue frio. “Estava com medo e confuso, mas encontrei cobertura parcial atrás de uma parede e fiz meu trabalho: tirar fotografias.”

Ozbilici foi recuando para o lado esquerdo, enquanto o atacante Mevlüt Mert Altintas fazia um gesto com a arma em direção às pessoas que estavam encolhidas no lado direito da sala. O fotojornalista pensou que o atirador “poderia ser checheno”, pois só mais tarde é que soube que ele gritou por Alepo. No blogue da AP, garantiu tê-lo ouvido entoar as palavras “Allahu akbar”.

De acordo com Burhan Ozbilici, Altintas estava tenso e destruiu vários quadros que estavam pendurados nas paredes. Teve “medo” e estava “consciente do perigo” que corria caso o atacante se virasse contra ele. Nesse momento, pensou: “Estou aqui, mesmo se for atingido, ferido ou morto, sou jornalista, tenho que fazer o meu trabalho, posso fugir sem fazer fotos … mas não saberia o que responder se as pessoas mais tarde me perguntassem: ‘Por que não tiraste fotos?’”. À cabeça de Ozbilici vieram também os “amigos e colegas que morreram ao fotografar em zonas de conflito ao longo dos anos”.

Pouco tempo depois, o atacante “estranhamente, controlado”, pediu para que os presentes abandonassem a sala. Chegaram “ambulâncias e veículos blindados e a operação policial foi lançada”. “O atacante foi morto no tiroteio.”

Ao chegar à redação, o fotojornalista turco ficou “chocado ao ver que o atirador estava mesmo atrás do embaixador enquanto falava”. “Como um amigo, ou um guarda-costas”. Ozbilici tinha duas opções: fugir ou fotografar. Optou pela segunda. E agora venceu o prémio mais importante que um fotojornalista pode alcançar: o World Press Photo.

Além de Burhan Ozbilici, participaram no concurso mais de cinco mil fotógrafos de 125 países diferentes, num total de 80 mil imagens. Veja na fotogaleria acima os vencedores desta edição.