Tudo parecia perfeitamente normal na passadeira vermelha, mas Joy Villa vinha pronta a conquistar os flashes das câmaras fotográficas e os comentários pelos Grammy fora. A cantora pop, habituada a fazer correr tinta na imprensa norte-americana, apareceu graciosa com um vestido branco pouco antes do início da cerimónia, mas logo desenganou o público: ela tinha chegado para voltar a ser polémica. Largou no chão parte do vestido branco e exibiu outro num azul forte cravado de brilhantes e com uma grande faixa vertical com a mensagem “Make America Great Again”, numa clara manifestação pró-Trump, mais rara do que as vindas da barricada contrária.

O vestido não dava para enganar: a cauda do vestido tinha escrito “Trump” em letras garrafais. No Instagram, Joy Villa veio dizer que a sua mensagem não era política: era simplesmente sobre amor. “Toda a minha plataforma artística é sobre o amor. Não poderia estar onde estou hoje sem o amor e a ternura daqueles lindos apoiantes e amigos ao meu redor. Obrigado. Espero que gostem desta noite @grammysawards2017 e lembrem-se de esquecer os seus problemas para se concentrar no seu futuro. Tu és infinito e bonito e ninguém pode deter-te, a não ser tu mesmo. Então, sai e comemora-te como um vencedor, não importa do quê, com aqueles que adoras! “.

A Internet não comprou a ideia: para os internautas, Joy Villa conseguiu mais uns minutos de atenção – e também mais 11 mil seguidores no Twitter e a entrada no top 16 do iTunes que prontamente agradeceu aos fãs. E Trump mais uma manifestação pública de uma apoiante. Mas, ironia das ironias, o vestido foi desenhado por um imigrante: Andre Soriano.

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Esta não é a primeira vez que Joy Villa dá que falar nos Grammy. No ano passado, o Huffington Post descreveu a sua roupa como “um dos mais ultrajantes” da edição de 2016. A E! Entertainment escreveu que a cantora estava “capaz de parar o show” e o Washington Post considerou o seu vestido vermelho, feito com o tecido da passadeira vermelha de 2015, “pouco comum” e “uma estreia”.

Os apoiantes de Trump aplaudiram, mas pouco depois foi a vez dos seus opositores. Tudo começou quando James Corden, apresentador dos Grammy, entrou em palco de um modo trapalhão que não deixa desvendar se foi acidente ou planeado. Certo é que logo a seguir começou a cantar um rap, que terminou com a frase: “Vivam tudo porque isto é o melhor e com o presidente Trump não sabemos o que vem a seguir”. Mas não parou por aí: “Estamos aqui esta noite, não importa com que raça ou onde nascem ou a cor da nossa cara. A música é arte, lembremo-nos disso para sempre. Podemos sobreviver se continuarmos juntos”. A seguir, Jennifer Lopez reforçou a mensagem quando subiu ao palco para entregar um dos galardões: “Neste ponto particular da História, a nossa voz é mais precisa do que nunca”.

Depois veio Katy Perry. A seguir a uma entrada a recordar os velhos tempos de “Teenage Dream”, Katy Perry chegou com estilo disco a cantar “Chained to the Rhythm” com uma bracelete no braço onde se lia “Resistir”. Quem assistia — tanto na cerimónia como pelo computador em casa — viu a mensagem como uma afronta ao novo presidente dos Estados Unidos, principalmente tendo em conta que Katy Perry foi uma das apoiantes mais empenhadas de Hillary Clinton. Mas há mais: no final da sua performance, a cantora pop fez passar atrás dela uma parte da Constituição norte-americana enquanto gritava: “No Hate!” — ou “não ao ódio” em português. Depois saiu de palco.

Pouco depois, uma mensagem mais direta contra Donald Trump chegou a palco. “Vamos tornar isto um pouco mais político”, disse Anderson Paak a meio de “We The People”. A meio da canção, que tem o nome da primeira frase a constar na Constituição dos Estados Unidos, várias pessoas de culturas diferentes invadiram o público e demonstraram ainda mais a mensagem com que o grupo de rap terminou a sua atuação: “Resistam! Resistam! Resistam!” foi a expressão mais repetida ao longo daqueles quatro minutos. (Mais um)”chega” ao ódio, garantiram os artistas.

Houve ainda outros momentos em que as políticas de Trump foram tema de conversa, mesmo sem mencionar o nome do presidente: “John F. Kennedy disse uma vez que a vida das artes está próxima do centro do propósito de uma nação”, disse o presidente da Fundação Grammy, Neil Portnow, apelando a “uma aversão ao ódio” e a um investimento crescente nas artes musicais.